Desde Proust sabemos no que um relacionamento amoroso vai dar: choro, ciúmes e ranger de dentes. Odette e Albertine são modelos de nossos sofrimentos futuros. E Charlus, a certeza de que homossexualismo descamba em vontade de sentir dor. Proust nos dá uma visão muito negativa da bicharada, algo que irritara Gide profundamente, mas o punhado de invertidos descritos por Proust a partir de "Sodoma e Gomorra" até o fim da "Busca" faz um retrato humano bem mais abrangente do que o universo de belos rapazinhos de Gide. Jean Genet, que começou a escrever na prisão, após ler Sodoma e Gomorra, mostrava, no extremo, a cisão entre homossexualismo e bom comportamento social, numa visão devastadora, que não serve para ilustrar o discurso dos militantes da causa.
Não existe um único romancista contemporâneo, gay ou não, que recrie em suas obras algo como a pavorosa relação Morel-Charlus da "Busca". Estão mais próximos de outra coisa, no registro de um mundo à parte, cor-de-rosa,à exclusão dos heteros, uma estufa para a bicharocagem. Há todo um movimento de gays amantes de gays nos EUA, que em países latinos como o Brasil esbarra em mil preconceitos dos próprios.Aqui há um discurso pró, mas os gays deliram com rapazes que preferem mulheres. Reinaldo Arenas, cubano, exilado nos EUA, onde contraiu AIDS, deplorava casamentos de bichas, que considerava tristes, pois homossexuais como ele (com mais de 5000 amantes)ou Genet buscam sempre em novos e múltiplos parceiros uma fuga da chatice, da monogamia, aliás monotonia, tão típica dos heteros. |