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cronicas-->Descartaveis -- 21/08/2003 - 00:30 (Christina Cabral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Descartáveis

Ó temporis, ó moris! Quando se lavava a roupa a beira do riacho, a saia sungada por baixo das coxas, a espuma a rodar, a girar rio abaixo e as águas a cantar: chuá... chuá...

Porque não fiquei na beira do rio, acocorada e cantando chuá, chuá? Coisa mais sem graça é a máquina de lavar roupa, barulhenta, tremiliquenta, parece um robó a nos impor horários e procedimentos...

E o lixo, então? Como mudou! Passou a ser o maior entulho da vida do homem. Depois da invenção dos sacos plásticos, então, por serem "não degradáveis", nem com a chuva nem com o tempo, por serem leves e carregáveis pelo vento, parece que o lixo dobrou dez vezes em cada casa, em todas as ruas, em toda a cidade. É lixo por toda parte, sorridente, em abanos e acenos, amarelos, azuis, brancos, vermelhos e pretos. Lixos desmontáveis e viajantes, rolando felizes pelas calçadas.

Antigamente você tinha o seu lixinho particular, exposto em lata própria, que os gatos vinham fuçar de manhã bem cedinho no seu portão. O caminhão de lixo passava, recolhia os detritos e deixava cada lata para o seu dono. Hoje os pacotes plásticos se enfileiram nas calçadas (mesmo porque se forem postos em latões especiais, "báu-báu"... roubam os latões), amontoam-se em baixo das árvores, misturam-se numa promiscuidade de contidos e moscas. Nos quintais (para quem ainda possui quintal), fossas transbordam e são multiplicadas. O homem é pior que gato tapando as suas sujeiras.

Tenho pena dos futuros arqueólogos! Devíamos deixar placas assinaladoras: não escavem aqui, para não se arrependerem e pagar o mico!

Se os primitivos nos deixaram potes de ceràmica, armas de pedra e ferro, esculturas, relicários e jóias, nós deixaremos entulhos, redes e redes de encanamentos entupidos, e plásticos ordinários das mais variadas cores e formas. Já imaginou que tristeza e humilhação para a nossa era "mesoplástica pré-atómica", quando futuros cientistas começarem a escavar um aterro e a enfileirar, espantados, vasilhames de margarina, iogurte, cremes, geléias, óleos e sacos e sacos de plásticos?

Ainda bem que eu vou ser cremada e não poderei me transformar em múmia - credo! - nem poderei ter meus ossos analisados, para que seja pesquisada a minha dieta alimentar... - o que transforma o meu corpo em descartável, como a caneta esferográfica com que assinarei esta crónica.
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