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Humor-->Contando ninguém acredita. -- 16/12/2000 - 11:18 (Joel Rogerio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Digno-me a narrar esse causo, não para epigrafar meu nome na história, mas pela importância científica e para que os fatos não sejam corrompidos e se retrate fantasiosamente o que realmente aconteceu. Eu posso fazer isso, eu vi. Eu estava lá. Eu presenciei a verdade nua, crua, cuspida e escarrada.

Aquela quinta-feira parecia tão insossa como todos os outros dias dos últimos tempos. Um calor de deitar os pêlos havia sobrevindo sobre a nossa pacata belezura de cidade. Só pra variar nada para se fazer. A não ser...., deixa pra lá, talvez uma partida de "Street fight" no bar da Lurdes. Isso havia passado na cabeça de Quito, mas uma partida de Street fight" nesse calor não apetece nem ao mais adepto. E depois, a última vez que havia jogado, não deu carga nem para Théo Aranha. Para os que não sabem, o Théo é o maior “marreco”, como se diz na gíria. E isso quer dizer que o camarada carece de habilidade para o jogo (o camarada é horrível, mesmo!). É..., nada de interessante para se fazer! Pelo jeito é deixar hoje para amanhã. E assim foi...

A noite caía e com ela um temporal bruto mostrava a cara com relâmpagos que riscavam o céu em todo quadrante oeste, lá de onde desce o Rio Doce, lá pelas bandas das minas gerais aonde mora uma garota chamada Juliana ( que realmente não gosta de sambar, e prefere ser perigosa até desarmada)... Aquela noite foi a que mais choveu desde que me entendo por gente. Até os sapos rezavam pra chuva dar um tempo!

O dia amanheceu com uma luz perfeita. Chegava a doer as vistas. Dia perfeito para uma pescaria. Há tempos ele havia combinado com uns camaradas tratantes uma pescaria, mas eram tipos que só balangavam beiços. Agora já havia decidido: iria sozinho. Seria lá na Lagoa do Zé Branco que fica bem perto do bairro Maria das Graças. O Tairone, um sujeito que vivia fantasiando a vida, disse certas vezes que naquela lagoa vivia um monstro, como no lago Ness. Mas quem acreditava no Tairone ?


A vegetação em torno da lagoa reverberava ao sol um verde que parecia se poder pegar com as mãos. Havia um silêncio de voz humana até onde se podia ouvir. Sentado numa pedra à margem da lagoa, segurando uma vara de pescar, Quito conseguia ouvir as batidas do próprio coração. Ultimamente ele estava assim: “sensível e manso”. Esse jeito manso, havia lhe acometido desde o dia em que juntamente com o Frangão, numa dessas viagens de entregas de uns “produtos” para as cidades do interior, e fazia uma chuva com um sol ( casamento de espanhol), mas era uma chuva miúda e um sol empalidecido de forma que um arco-íris apareceu, formando uma ponte sobre a rodovia e eles passaram com o carro por baixo daquela profusão de cores. O Frangão até relutou um pouco em passar, mas o Quito não teve paciência para esperar dissipar as cores do espectro solar ( quem conhece o Quito entende bem o que digo). Daí em diante ele começou a sentir um frisson por dentro e também um certo sexto sentido. E naquele momento sentia que algo diferente estava por acontecer. Já não tinha dúvida disso.

Para acalmar-se tentou recordar-se da última vez que havia pescado. Lembra claramente: fisgou um morobá de oito quilos e um pequeno caborreleque que até então não se tinha registro da espécie nos compêndios da biologia e nem tampouco nas estórias de pescadores. A sua avó ( que deus a tenha!), havia falado que os caborreleques, depois que aprendiam a escalar as pedras da beira dos rios, cresciam muito e até chegavam a gigantes, causando transtornos, pois devoravam todo roçado de milho, feijão ou o jiló marginal. Aliás, jiló era o preferido deles.

Mas bom mesmo era pensar nas mulheres que havia amado. A única coisa que o apetecia e não exigia um grande esforço mnemônico, ainda mais fumando um cigarrinho. É claro que devo dizer que estamos falando daquelas dos últimos dois anos. Porque lembrar do Ritão, além de exigir a memória, seria um exercício penoso e de gosto duvidoso. Mas ele pensou na maldita. (caro leitor, você não conhece o Quito!)

.........Enquanto pensava nessas coisas, o silêncio fora cortato por espocar de borbulhas na lagoa. As borbulhas faziam um rastro na superfície da água em direção de onde o nosso amigo pescava. Para sua surpresa e horror, uma grande criatura de aspecto aquático, de pele levemente acinzentada e com barbatanas, irrompeu da água soltando finos grunhidos, vindo em direção à mochila, onde estava guardado o lanche que levara, que consistia em um hamburger, leite e um litro de campari ( porque o Quito sempre teve o estranho hábito de tomar leite misturado com campari). Vixe, mangalô três vezes!– Grita o nosso herói, num misto de surpresa e horror. Sai pra lá “demoin” – continua ele no desespero. O peixe-monstro sem se importar com qualquer coisa, retira da bolsa que estava aberta, o litro de campari, provocando uma mudança de terror para uma raiva de provocar brabeza. Filho duma Elza! Se você quiser comer o hambúguer tudo bem, mas o campari não! “Ce” acha que “tá” podendo?– Esbravejou. Notando que a criatura não lhe ‘dava idéia”, nem um biquinho ao menos fez, Quito entra de soco, mas antes que uma direita entrasse no ventre do animal, um golpe de pura agilidade atinge o pescoso do Quito, bem perto da orelha, é o que comumente chamamos de moca. Estatelado no chão barrento, ele se levanta e ainda tenta uma reação, mas antes de erguer as mãos, toma uma bifa. Se eu pudesse pegar um poder – pensa ele no desespero, enquanto o bicho da água bebia o campari como quem tem sede de muito. Depois de algumas tragadas a “coisa” deixou escapolir das rudes mãos de palmípedes o objeto contendor, foi aí que Quito, numa agilidade sobre-humana pegou o litro e com o mesmo atingiu um golpe na altura dos rins do parrudo oponente que tombou feito madeira.

Enquanto olhava para aquele capeta ofegante, ali no chão, passa correndo numa trilha, a poucos metros, um sujeito baixinho usando um boné australiano e de nariz saliente - Ei, Fonsinho, venha cá ver que desgraça é essa! – grita o Quito.

Baco paco baco, Quito! Seu burro “véio”, que peixe gigante e esquisito que você pegou. Acho que só o sargento Gérson pegaria um igual! Isso é um celacanto, um peixe que julgavam ter sido extinto e que a espécie tem trezentos e sessenta milhões de anos. Eu sei porque passou no Jornal nacional, dia desses. Agora você pode ser chamado também de o pescador da "moda". Mas já vou pois estou em treinamento militar e quero ser mais forte que mil quatis, você vai ver só! - Enquanto Fonsin sai, Quito vira-se para olhar a criatura e vê somente um rastro de retorno às águas e borbulhas ao longe da lagoa. Vou embora já e só volto aqui algum dia se trouxer o arpão irado do pai do Porcão, porque posso encontrar novamente esse caborreleque gigante e tenho que acabar com a raça dele – pensou ele com seus botões.

Chegando em casa, depois de um bom banho, não quis ver o que talvez fosse o milésimo filme que havia locado neste ano de nosso senhor Jesus Cristo. Porque certame veria cenas em que alguém teria uma arma na mão. Preferiu ir à casa do Rosebol comer um angu incrementado, acompanhado da turma do bloco K-beça Ativa. Mas para sua surpresa o prato do dia era moqueca capixaba. Poxa vida - disse ele aos suspiros - há dias em que é difícil viver!


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