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cronicas-->Visita ao Inferno -- 11/09/2000 - 10:32 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dante Alighieri descreveu o inferno de tal maneira que as cenas que envolvem grandes tragédias ou coisas horríveis são chamadas popularmente como "dantescas". Nunca li sua Divina Comédia, mas tenho certeza que nem de longe a imaginação do italiano chega perto da situação que eu vivi há algumas semanas atrás, em São Paulo. Muitos (e, definitivamente, muitas) dirão que estou exagerando. Mas é a pura verdade, o inferno existe, e tem até endereço fixo: rua José Paulino, centro de São Paulo.
Ao lado da Estação da Luz, linda, encostado no reformado Parque da Luz, está uma movimentada ruazinha apertada, que, de longe, parece inocente, mas que de perto, mostra logo suas labaredas de chamas: SETECENTOS METROS DE LOJAS DE ROUPAS FEMININAS, uma a cada 6 metros, dos dois lados da rua! Realmente o Inferno, para qualquer homem normal. Chegamos de metró, eu, minha namorada, minha mãe e minha prima, ou seja, eu e mais três mulheres, dispostas a tudo: mexer, experimentar, comprar e, claro, a andar, andar e andar. E andar só mais um pouquinho, até aquela lojinha ali da esquina, que eu vi uma blusinha que é uma belezinha.
Mas sim, eu me preparei! Semanas antes, fiz exercícios, flexões, abdominais, horas de caminhada, pois sabia que a minha presença naquele território era estritamente necessária para o bom andamento das compras. Afinal, alguém tinha que carregar os pacotes... O que eu não sabia, e não me preparei espiritualmente para isso, é que encontraria o próprio inferno aqui na Terra, e tão cedo.
As lojas eram todas exatamente iguais. Um corredor amontoado de roupas de mulher, dos dois lados, e aqueles cabideiros com saias, vestidos (que pra mim eram a mesma coisa, mas descobri que não são), casacos, roupas de festa, calças, blusas, camisas, blusinhas (como mulher adora blusinha!). Um pesadelo, ficar em pé no meio daquilo tudo, sem nada, nada interessante para olhar. Nem nos camelós, na calçada, que apenas vendiam calças de baciada. A única imagem celestial que tive no meu passeio foi das kombis-sorveteria, cujos sorvetes eram grandes e coloridos.
As roupas são as mesmíssimas. O que uma loja vende, todas as outras têm igual. Mas o mais impressionante, o inacreditável, era a presença de uma coreana no fundo de cada uma das lojas. Todas, absolutamente todas as lojas têm uma coreana no fundo, que é a proprietária. Falam no celular em coreano e riem em coreano também, Hi Hi Hi... Acredito que na verdade era sempre a mesma entidade, uma força diabólica que se locomovia no espaço na velocidade do pensamento, pulando de uma loja para outra, dizendo com aquele sotaque "non pode experimentá", "non aceita visa", "non vende varejo, só atacado", "non pode comê na loja", "non pode deitá no balcon". Um pesadelo.
Na rua, os ónibus passam expelindo sua fumaça de diesel queimado, disputando espaço com os filhos dos coreanos em seus Hyundais e Daewoos. O sol batia forte no cóco. Entra, sai, entra sai. Minha perna doía muito, mas pouquíssimas lojas têm cadeiras! Um absurdo! Realmente, as mulheres são seres muito mais adaptados. Enquanto eu sofria, escorando-me nos cabideiros, nas paredes, debruçando-me pateticamente sobre os balcões, com minhas lamúrias, as três seguiam forte, sem parar, sem reclamar.
Graças ao bom Deus, elas não gostaram de quase nada de lá, e as compras duraram apenas três horas (do meio dia às três), e não tive que levar sacola nem pacote nenhum. Ótimo, para quem pensava que ia ficar no mínimo cinco horas andando e carregando quilos de roupas...
Depois disso rumamos para o conforto do Shopping, com ar condicionado, lojas variadas e interessantes, como de canivetes Victorinox, produtos eletrónicos, ferramentas, livrarias, cinemas, e de repente meus olhos se marejaram enquanto brilhava na minha frente o luminoso da deliciosa Gelateria Parmalat.
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