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Contos-->O ÚLTIMO QUE SAIR APAGUE A LUZ -- 28/08/2004 - 15:51 (ADÃO JORGE DOS SANTOS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ÚLTIMO QUE SAIR APAGUE A LUZ

Assim que o telefone tocou senti um arrepio percorrer todo o meu corpo. Era a primeira vez que isto me acontecia. Olhei para o telefone, que insistia em tocar, pressentindo de que quem estava do outro lado tinha urgência em falar.
Todos sentiram que havia algo no ar. Um forte silencio ocupou a sala, calando todas as vozes. Como eu estava perto atendi.
Assim que desliguei olhei em torno e vi pavor e ansiedade nos rostos de meus colegas. Todos perguntaram ao mesmo tempo quem havia sido demitido desta vez?
Eu disse sem pensar que havia sido o Geraldo.
Geraldo levantou-se calmamente. Abriu a gaveta com seus pertences e colocou-os em cima da mesa num explicito gesto de despedida. Em seguida passou a mão por sobre toda a mesa, cantos e contornos, até na cadeira deu uma passada, como se dissesse adeus a quem por tantos anos lhe fora companheiro. Passou por nós de cabeça erguida, sabíamos que não mostraria fraqueza para ninguém, era um homem valente, que certamente na solidão do desemprego, longe de todos choraria.
Depois que Geraldo saiu, não se falou mais nada. Era só uma questão de tempo.
Edgar quebrou o silencio da sala falando talvez com ele mesmo ou para que nós o escutássemos, disse que não era justo, quase chorando, com a voz embargada, que era um bom funcionário, responsável e que nunca tinha faltado, e que não iria ser demitido assim no mais, não mesmo! E o que faria agora da vida, havia passado mais tempo na empresa de que na sua própria casa, não sabia o que fazer, disse que estava perdido!
Clarice e Marcela, secretarias começaram a chorar abraçadas, esperavam o pior.
O fato era de que uma grande parte do quadro funcional já havia sido dispensado, e era só o começo. Parecia o fim do mundo. E de certo modo estava sendo para alguns.
O engraçado desta situação, se é que há graça nisto, era de que me considerava imune a este tipo de assunto. Também era um empregado exemplar, não tinham o que reclamar de meu serviço, portanto não havia com o que me preocupar. Já havia acontecido esta mesma situação tempos atrás, muitos foram demitidos, eu permaneci. Só que agora não tinha a mesma certeza.
O telefone tocou e Edgar atendeu. Desligou e nos olhou. Não foi preciso dizer nada. O inevitável acontecera.
Edgar parou na minha frente e sem dizer nada me abraçou. Pela primeira vez eu vi um homem chorar. Disse apenas Deus te acompanhe!
Dava pena ver aquelas pessoas partindo. O clima não era e nem poderia ser dos melhores. Para todos os colegas que iam saindo eu sempre tinha uma palavra de conforto, um vá com Deus. Clarice e Marcela quando saíram eu as abracei e desejei boa sorte. Em César dei um último aperto de mão. Em Roberto, o cabeça, que era um jovem, disse que isto fazia parte da vida e como era ainda novo, encontraria o seu caminho. O seco, que era um sujeito dedicado, que havia casado há pouco tempo e que tinha um lindo bebê, chegou e me abraçou fortemente. Vi nos seus olhos medo e perplexidade, próprias de um jovem pai de família.
Em toda esta situação senti a presença de Deus. Deus estava em todos o corações e orações, era a ele que todos chamavam neste momento crucial. Deus estava no crucifixo de Eduardo, na guia colorida de Raquel, pendurado na parede na figura de Cristo, no meu pensamento, em todos os pensamentos. Deus certamente sabia o que fazia. Naquele lugar muitas orações e promessas foram feitas, e não atendidas.
Não demorou muito o telefone tocou novamente. Sem nenhuma pressa atendi, já sabendo instintivamente, o nome do próximo demitido.
Desliguei e procurei um rosto amigo, um sorriso de compreensão, uma mão amiga, só então me dei conta de que não havia mais ninguém para ser demitido.
Antes de sair li o cartaz na parede: O ÚLTIMO QUE SAIR APAQUE A LUZ. Foi justamente o que fiz.



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