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Contos-->KLIC DOUGLAS -- 31/08/2004 - 10:25 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

I


Era um sujeito franzino, branquelo, voz de contralto, lampinho, e com os cabelos negros que davam a impressão de ser aquela sua cabeça enorme, desproporcional para o corpo miúdo. Os sinais da hidrocefalia sofrida na infância, assim como que por milagre, desapareceram no decorrer do tempo; não houve seqüelas. Ele teve muita sorte; nem mesmo as convulsões desalentaram sua mãe, que via naquele seu filho único, o herdeiro salvador de toda sua supervalorizada herança genética.
Ele havia acabado de arrumar emprego novo e estava atrapalhado com os contatos sociais que era obrigado manter. Não conhecia aquela gente esquisita e tinha medo que um daqueles gorilas enormes, transeuntes habituais dos corredores fedidos, num esbarrão acidental, de inopino, derrubassem-no com as fuças ao solo.
Das afecções trazidas da infância, a bronquite asmática era a que, com mais freqüência, lhe revisitava. Por isso quando se via apiançado, lembrava-se logo da mamãe e seus conselhos não seguidos.
Klic Douglas era bacharel em ciências da computação e responsável pelos computadores da empresa. Apesar das vozes gritantes que o acusavam de manter 174 imagens de apelo sexual num site feito aos pedófilos, esquivava-se, com habilidade, das acusações. Por isso foi escolhido por alguns membros da seita do pavão louco para, em manobra de mestre, detonar o computador daquele soberbo que vinha escrevendo textos que os sectários da seita não gostavam de ler.

II

Quando alguns prosélitos perceberam que o magnífico estava disposto a comprar um scanner, viram nisso a oportunidade que tanto esperavam.
Klic, muito bem instruído e orientado, se aproximou da vítima e asseverou ter o aparelho que ele queria. Mas que para instala-lo precisava levar o CPU e os cabos. Com voz chorosa e delicada, mansuetude e bondade aparentes, não achou dificuldades para convencer o opositor. Durante os dois dias em que manteve sob seu poder a máquina do adverso, trocou tranqüila e inapelavelmente, todo seu âmago.
Na reapresentação do engenho ao lesado falou, com a segurança, que lhe dava o trato diário daqueles mecanismos, haver feito uma reconfiguração nobre, mas que sua máquina estava mesmo era “baleada”.

III


No Rio dos Seixos, a namorada de Klic Douglas, naquele sábado, o aguardava convicta que seu amado surgiria com novidades supimpas. Ela sabia dos planos para lograr o soberbo. Ela tinha também consciência que a seita não dispunha de bons argumentos para dar combate ao sublime, no território das idéias filosóficas. E que por isso a doutrina teria que, igual aos maus jogadores de futebol, que puxam a camisa e chutam a canela do adversário, praticar esse tipo de sacanagem frenadora.


IV


Mas na estrada, estreita e sombreada pelas nuvens obscuras do temporal que surgia, Klic se viu nervoso e com falta de ar. Aquela sua bombinha que lhe abria os brônquios, por um golpe do azar, caira ao chão do carro, indo parar entre os pedais. Os trovões ecoavam seguindo as faíscas que, vindas com as descargas elétricas, ameaçavam castigo. O vento zunia raivoso e aquele seu som agudo e sibilante lembrava potestades iradas. Os olhos, ouvidos e a consciência daquele que fora o mais astuto, esperto e micro-guerreiro macrobiótico microbiano da seita comandante, foram premidos pelas forças opressoras da mãe natureza. Com frêmitos de terror pediu clemência. Sim, ele a teria, mas não sem antes cair com seu galipão numa cratera aspirante daquela vereda provincial.

V


Por sorte, um ciclista amoitado na vegetação, completamente encharcado pelo vendaval, arrepiado e aturdido com o acidente que acabara de ver, manipulando tremula nervosamente seu celular obsoleto, chamou o resgate no 193. Os bombeiros chegaram rápidos e com procedimentos específicos para casos como aquele, levaram Klic Douglas para o hospital. O acidentado, naquela altura do campeonato, estava completamente banguela. A pancada do beiço no volante lhe quebrara os incisivos. E Klic que não era nenhum Maurício Mattar, Miguel Falabella ou Tony Ramos, tornou-se mais horripilante do que já era. E a questão a partir daquele momento então seria: Clotilde a namoradinha esperançosa, do Rio dos Seixos, ficaria com Klic mesmo assim com aquela cara toda esculhambada?
A resposta, sem sombra de dúvidas era sim. Afinal, meu amigo, minha amiga, e senhoras donas de casa: quem ama o feio, bonito lhe parece.



Fernando Zocca é escritor, advogado e jornalista.






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