De Brasília um avião
Rumava ao Rio de Janeiro
A bordo grandes políticos
E sobrevoando altaneiro
Faria escala no Rio
Porém em Minas caiu
No sítio de um mineiro.
Chapéu de palha e afoito
Fumo de corda fumando
O mineiro que estava
A velha viola ponteando
Da porta de sua casa
Viu o avião quebrar a asa
E cair se esfumaçando.
Montou no cavalo baio
Sem arreio, só de peia,
Foi ver o ancontecido
Lá no baixadão de areia
Pegou no rancho a enxada
E enterrou a gentarada
Morta de gravata e meia.
Noutro dia a autoridade
Interrogava o mineiro
Tirando leite das vacas
Já de manhã no mangueiro
Quando pitava um cigarro
Pizando no sujo barro
Chão genuino e verdadeiro.
Quis saber o Delegado
Sobre a queda do avião:
- Já que o senhor foi lá
Com enxada e enxadão
Sem saber nem perguntar
E pôs-se a enterrar
Pai, mãe, filho e irmão...
Dobrando o chapéu na testa
Mineiro deu uma cuspida
Prendeu na orelha o cigarro
Disse ao Delega em seguida:
- Pra não mais encher o saco
Botei eles num buraco
Lá onde é o fim da vida.
"Antes porém preguntei
Se arguém sobrevivia
Uns deiz levantaro a mão
Gritando queles vivia
Só que eu num confiei neles
Na dúvida enterrei eles
Vai que argum deles mentia...!?"
BENEDITO GENEROSO DA COSTA
benegcosta@yahoo.com.br
DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS