Há um trecho de recente música do Zeca Baleiro em que ele diz:
"Eu tava só, sozinho, mais solitário que um paulistano..."
Inexorável verdade! Nunca conheci pessoas mais solitárias que estas, desta vertiginosa selva de pedras e arranha-céus.
Vamos ao cinema e a exposições sozinhos, não raro a bares também - logicamente que é mais raro encontrar pessoas com esta coragem -, nos enfiamos em livrarias, em cafés, sempre solitários, "olhos de ressaca" como os de Capitu, querendo captar e apreender tudo.
Mesmo os que estão acompanhados padecem de uma solidão inerente à sua condição de paulistano.
Pessoas estranhas sentam à mesma mesa numa praça de alimentação, permanecendo cinco, dez minutos ali, lado a lado, num silêncio cúmplice e por vezes constrangedor.
Vamos à locadora nas noites mais frias, escolhemos o mesmo filme que outro solitário locou na noite anterior.
Em madrugadas geladas recorremos aos supermercados 24 h mesmo tendo horário livre para fazermos isso durante o dia. É mais charmoso, mais londrino. Dá prazer ver outros solitários como você, entre vinhos e queijos. Claro, ninguém vai ao supermercado à s três da manhã para comprar papel higiênico ou BomBrill. Que falta de glamour!
Nos escondemos atrás de películas de insul-film que nos protegem de olhares alheios, nos mantêm seguros nos nossos universos que não têm espaço para censuras ou olhares que vaticinem nossa condição de solitários. Isso não. Apenas eu e o imortal Sinatra, que um radialista solitário sabia que agradaria a outros tantos como ele, sabemos da minha solidão nesta noite.
Patrícia Köhler
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