Estava lendo um texto policial quando deparo com a seguinte frase, do escritor Laurence Sterne: "Um homem que não tem um brinquedo ignora todo o partido que se pode tirar da vida. Um brinquedo é o meio exato entre a paixão e a loucura."
Esta frase me deteve e fez eu me abstrair quase que por completo, a ponto de esquecer do texto em si. Fixei-me à frase.
Que verdade estas palavras contêm! Um brinquedo é o meio exato entre a paixão e a loucura! Quem em sã consciência há de discordar?
Olhemos pro nosso passado, e pensaremos em brinquedos propriamente ditos: bonecas que passávamos horas a embalar, pór chupeta, dar comida, colocá-las sentadas a papearem umas com as outras. Panelinhas onde cismávamos de colocar grãos de arroz e feijão. Quem diz que não há uma dose obscena de paixão e loucura nisso?
Não me esqueci dos meninos e suas brincadeiras preferidas, até porque cresci com um irmão apenas dois anos mais velho: carrinhos, pistas de autorama, carros de corrida que colidiam entre mãozinhas que mal comportavam tais brinquedos. Loucura? Sim, e muita paixão também.
Agora olhemos pra nós, adultos que não passamos
de crianças crescidas, e digamos que "brinquedos" não nos fazem falta! Imagina, impossível!
O lúdico e o abstrato precisarão sempre de um lugar dentro de nós, dentro da nossa acachapante rotina.
Meus brinquedos favoritos: palavras cruzadas, falar sozinha, cantar, ler gibis, andar descalça, tomar banhos de chuva, brincar muito com meus gatos e cachorros, escrever.
Tudo isso são brinquedos e brincadeiras. São, guardadas as proporções, minhas subversões na minha versão "adulta". Porque brincar é subverter, é criar e recriar mundos, inventar personagens, desfazer-se deles em fração de segundos.
Espero que possamos tirar muito partido da vida, e que passemos boa parte de nossa existência neste meio exato entre a paixão e a loucura.
Boas brincadeiras a todos vocês!
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