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Contos-->O ENCONTRO MAIS ESPERADO -- 03/09/2004 - 08:01 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Foram muitos anos de busca...

Procurei por todos os cantos, e embora a sentisse por perto, nunca havia divisado uma vez sequer o seu rosto, até que um dia eu soube (e não posso dizer como), que ela passaria por uma certa porta. Fui até o local e agucei todos os meus sentidos, e fiquei esperando pelo momento, porque havia também a informação de que era além de invisível, muito rápida.
De repente senti não sei precisar bem com qual dos meus sentidos que ela estava perto, e com uma destreza e força que não conhecia ainda em mim a agarrei. E quando senti que era ela mesma, a minha alma pulsou forte dentro em mim e mais forças eu tive, e não a soltei.
Tentei falar mas não foi preciso, porque entendi no momento que não são com palavras que poderia me entender com ela. E nem houve tempo porque foi ela quem disse:
- Não é à força que me conhece... E se não fosse pela minha vontade você não me agarraria...
Eu não disse nada, e ainda mais a segurei, e ouvi novamente a sua voz:
- Ninguém pode ser dono de mim... Solta-me agora!...
Eu não podia soltá-la, e com mais força ainda a segurei. E só resolvi não mais fazê-lo quando ela disse:
- Vem comigo.
Mas antes de soltar, eu disse:
- Não vai fugir de mim?
- Não. Eu estarei sempre ao teu lado...
- Mas porque fugiu sempre?
- Jamais fugi de quem me procura.
- Mas nunca a vi perto de mim...
- Eu sempre estive perto dos que me conhecem.
- Mas eu nunca a vi perto de mim – repeti.
- Mas sentiu... Vem comigo.
- Que vai fazer aí dentro.
- O que sempre fiz.
- O que foi que sempre fez nesse lugar?
- Vem e vê.
Quando ela disse isso: “vem e vê”, os meus olhos contemplaram o que de mais belo um homem poderia ver. Somente mais tarde eu soube que não poderia jamais descrevê-la (mesmo porque não sei como) e é por isso que até hoje não digo como ela é.
Entramos. E quando o fizemos percebi que não éramos nem eu nem ela, notados e olhei meu corpo e só então percebi como em um sonho, que eu também era transparente.
Havia uma multidão no lugar, e todos se cumprimentavam e eram muito bem vestidos, e falavam muito bem, e repetiam a todo instante o nome de Deus.
Um homem subido a um púlpito, com vestes suntuosas anunciou:
- Meus amigos e irmãos, nesse momento ouvirão como é a Verdade... – E fez ele mesmo um discurso como que explicando como ela era (na sua opinião é claro), e olhei a minha companheira do lado, e percebi que aquele homem não a conhecia. Então ele disse no fim do discurso: - Vamos ouvir então o que a Verdade tem a dizer.
E quando eu pensei que a minha amiga fosse subir ao púlpito, saiu dos camarins uma mulher que se parecia muito com ela (a Verdade), e subiu ao púlpito e falou e foi muito aplaudida. E em nome de Deus, conclamou a todos a continuarem naquele lugar e fez muitas promessas aos que a ouvia. Mas embora as palavras fossem bonitas, percebi nelas um certo tom camuflado de sutil ameaça.
Depois de ouvirmos o discurso, saímos do lugar e eu perguntei:
- Quem é aquela que se parece tanto assim com você?
- É a Mentira – ela respondeu.
- Porque é que você permite que ela fale no seu lugar e engane as pessoas usando o nome de Deus e dizendo ser você?
A Verdade só me olhou e sorriu, e eu entendi pelo seu o sorriso, mais do que havia entendido com milhões de palavras que antes ouvira. Saímos e depois que andamos um pouco, e ela disse sem olhar para o lugar de onde acabávamos de sair:
- Observe essas habitações. Elas significam a glória transitória que há de acabar em breve. São antros onde estão escondidas a vileza o infortúnio e a crueldade dos filhos da Mentira, que como a mãe, se disfarçam com as vestes roubadas de mim e dos meus filhos. Eles foram enganados, e pensam todos que são meus filhos, e é por isso que conseguem repassar tão bem o produto que vendem a preço de morte... Veja esse brilho. Ele não é de luz própria, mas são ilusões de outras luzes refletidas em metais... O orgulho é o alicerce que sustenta por um pouco esses palácios que se erguem aos céus em todo o mundo, como se fossem agradáveis a Deus. Eles tem aparência de uma coisa em um lugar e de outra noutro, mas carregam sempre no espírito o mesmo sentimento em todos os lugares. Uns conseguem disfarçar mais e outros menos o que é que de fato escondem como armas nos corações. Porque o amor que dizem ter, é o disfarce do verdadeiro sentimento que abafam... É por causa desses lugares que dizem que sou triste... Porque de fato uma lágrima rola constantemente em minha alma, até que chegue o meu dia...
Ela parou de falar e me olhou, e entendi no momento as suas palavras, como se aquele olhar fizesse com que penetrasse tudo o que foi e o que não foi dito... E nem que eu queira, ainda hoje não consigo esquecer seu semblante e suas palavras...
E vi pela última vez o quanto era bela na sua transparência mostrada a mim como por encanto. Contemplei e novamente vi que a beleza da Verdade é tão transparente como as almas que rondam o espaço.
Depois de um instante ela disse:
- Vou andar um pouco mais rápido que você, até que os teus pés tenham asas como os meus. Mas não pense que está só se não continuar me vendo por perto. Estou estampada em todos os lugares, mas é melhor quem me sente do que quem me vê.
De repente desapareceu dos meus olhos, mas a sinto por perto...
Hoje espero o dia em que eu possa dizer como é a Verdade. Espero que chegue o seu dia, porque sinto que será também o meu dia...
Antes de andar um pouco mais rápido que eu, ela me advertiu de que todos os que a conheceram e quiseram dizer aos homens como é o seu semblante, foram mortos acusados de dizer mentiras. É por isso que me calo, e todos pensam que não sei falar.

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Adelmario Sampaio
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