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Contos-->O telefonema -- 03/09/2004 - 22:10 (Manfredo Niterói) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
texto de um gostoso reencontro com ex que não via há muito.


O TELEFONEMA

No dia que tomei coragem, ansiosa como não poderia deixar de ser, liguei para o serviço de auxílio à lista telefônica e quando a voz eletrônica começou: “o telefone solicitado é...” escrevi o número em um papel minúsculo que levara para a anotação. Pensei, ainda tomada da coragem inicial, de ligar imediatamente. Era uma Quinta-feira e a noite se aproximava num final de tarde bonito.

“Mas não posso ligar daqui; se esse telefone tem identificador de chamadas, o dele também deve ter...” e ponderei que se ele estivesse com alguma mulher, a mesma poderia atazanar-me e não queria mais problemas. Comecei a cuidar da casa e deixei para lá, mas com intuito de ligar no dia seguinte. Guardei o papel na carteira, meio escondido. Mesmo terminado com meu atual namorado, o mesmo poderia ainda aparecer e caso mexesse em minha carteira, acabaria por criar confusão. Tudo de que fugia era confusão. O papel era muito pequeno e só continha o número do telefone, sem identificação.

Na manhã seguinte fui até o Centro da cidade, pensando que seria o mais seguro pois ele poderia ainda ligar para o orelhão no Engenho.

Peguei o ônibus e no caminho pensava o que lhe diria. Qual o motivo de minha ligação? O que vou falar para ele? Não tenho nada para falar!!, concluí. Desci no shopping ao lado do Terminal Rodoviário e tomei um chopp pensando qual seria o motivo de minha ligação. Não poderia ligar sem um motivo!! Não poderia simplesmente ligar pois, dependendo da resposta, ficaria numa situação ruim.

- E aí Manfredo, como você está?

- Estou bem, casado...

- Então ta, tchau!

Não poderia ser assim! Acabei voltando para casa.

Naquele dia não tinha ido trabalhar, pois havia uma cerimônia e não precisariam de mim. Eram umas onze horas da manhã quando decidi ir para a casa de minha mãe ao invés de onde morava pois Nininha talvez estivesse lá e não queria testemunhas.

Imagino Nininha vendo-me falar ao telefone com o “falecido”, Espalhara onde morava que ele havia morrido e ninguém contestara o fato. A maioria das pessoas realmente achava que ele havia falecido.

Minha mãe estava no seu horário de trabalho e, na casa dela, mesmo sem encontrar um motivo plausível, disquei o número de seu telefone.

Ficava imaginando se ele lembraria de mim. Angustiava-me pensar no seguinte diálogo:

- Oi, Manfredo, sou eu, a Gina...

- Gina???

- É, a Gina... Lembra...

- Gina??? Hummm... Não lembro não... Ahhh!! Lembrei agora...

Não conseguia vislumbrar outro diálogo que não esse, o que me angustiava ainda mais. Depois que ele lembrasse – de pronto ou depois de algum tempo de conversa – ia perguntar, invariavelmente se estava casado e, diante da afirmativa, ia despedir-me.

Também poderia acontecer de ligar e ouvir uma voz infantil:

- Alô? Quer falar com meu pai? Pêra aí que vou chamar... Paiêêê... – e podia ouvir a criança voltando por algum corredor para brincar de novo.

Iria desligar.

Mas quando liguei depois do terceiro toque ele atendeu. Respirei fundo. Era a voz dele.

- Manfredo? – fui formal. Poderia estar no viva voz.

- Ele. – respondeu secamente.

- Oi, sou eu, Gina – passaram uns dois segundos – Regina...

Esperava alguma resposta horrorosa, que poderia magoar-me. Tinha vontade de encontrá-lo mas sempre achei que deveria deixar o tempo passar. Fiquei aguardando algo do Gênero, até que ele falou:

- Oiiiiiiiiiiiiii... E aí menina? Como você ta? - parecia feliz com a minha ligação. Continuou – Por onde você tem andando??

Não sabia como me comportar e continuava tratando-o formalmente. Embora tenha notado que ele estava receptivo, não queria me animar. Foi nesse momento que me veio à cabeça um livro que estava comigo. O livro havia me ajudado para a elaboração da monografia mas tive outras oportunidades de devolvê-lo, mas não o fiz. Como não havia pensado nisso!!! Havia guardado o livro para esse fim, também.

- Manfredo, estou te ligando pois queria te dizer que estou com um livro seu aqui que me ajudou muito na monografia e como sei também que você preza muito os seus livros...

- Ahhhh... o livro... lembro do livro...

- É... eu pensei em deixar no escritório mas eu liguei para o escritório e não consegui – mentia descaradamente – e marcaria com a sua secretária para que ela recebesse...

- Eu não tenho mais escritório em Niterói, agora é no Rio...

- Ahhh... por isso não consegui falar para lá... – me saí bem, pensei. – Então posso deixar na portaria do seu prédio. Você ainda mora no mesmo lugar e posso deixar na portaria. Tem algum problema?

- Na portaria? Que isso, você não quer me devolver isso pessoalmente? Pô Gina, a gente não se vê a tanto tempo... vamos botar o papo em dia. Ainda não são nem onze horas e a gente pode almoçar junto e...

Ele começou a falar como um enlouquecido. Desembestou a falar e deixou claro que não receberia nada se não fosse pessoalmente. Traçou várias alternativas: almoço, jantar, etc... Lembrei-me de uma coisa: não sabia onde estava o livro. Como ia encontrar-me com ele se nem mesmo sabia onde estava o livro? Nunca poderia encontrar-me com ele sem o livro.

- Olha, deixa que te ligo mais tarde... – tinha de ganhar tempo para achar o livro.

- Então valeu!

Depois de desligar, incontinenti, liguei para meu pai. O livro poderia estar em sua casa. Pensava ainda onde ele poderia estar.

- Pai, preciso achar um livro... livro caríssimo, que deve custar uns duzentos reais e a pessoa que me emprestou... – tentava valorizar a situação pois ele nunca pararia de trabalhar para ir procurar um livro. Haviam vários cachorros pit-bull na casa dele e não poderia entrar a não ser em sua companhia.

- Quer que vá aí te buscar filha?

- Não, to indo pra lá e você me encontra na entrada.

Lá chegando, botei tudo abaixo. Joguei todos os livros que estavam na parte de cima do armário no chão. Abria sacos onde haviam livros, fotos, pastas... Até que achei o livro! Suava frio. Disse a papai:

- Pai, te amo. Você é o homem da minha vida. Tchau.

Como ainda tinha tempo – era um pouco mais de uma hora – decidi ir ao cabeleireiro me preparar. Fiz escova e por volta das quatro estava em casa. Ele havia me dado o número do celular e havia me dito que a hora que eu fosse para o Centro ele me encontraria. Liguei assim que cheguei.

- Manfredo, daqui a pouco te ligo pois vou para o Curso...

- Curso de quê?

- Curso, Manfredo... Curso... – não respondi.

- Ahnnnnn... – pareceu meio desconfiado.

Acabou por aceitar e quando cheguei no Curso disse logo a professora: Não vou ficar aqui!

- Porque, voltou pro ex? -perguntou a professora com um sorriso largo.

- Não. – respondi séria. – Vou sair e não vou assistir aula.

Eu nunca faltara e só havia ido lá para avisar que não ia. O que mais ela queria?

Vestia uma blusa azul que realçava meus belos seios. Ele nunca havia me visto loira, refleti. Não havia me maquiado e usava uma calça jeans muito colada. Sentia-me uma idiota, uma espécie de adolescente que ia ao encontro do primeiro namorado.

Na Van, liguei somente quando estava na Avenida próxima a sua casa, a umas duas quadras de distância.

- Vai pro Marilice, o bar embaixo da casa de Flávia que estou passando aí pra te pegar. To no Centro agora e o trânsito esta uma porcaria mas daqui a pouco chego aí.

O Marilice era um bar onde já me levara várias vezes. Vários de seus amigos viviam naquele bar. Não me agradava a idéia de encontrar Flávia, Renata ou quem quer que fosse. Queria tão somente encontrá-lo. Ao chegar pedi uma água com gás e, alguns minutos depois me ligou.

- To chegando, vai pra esquina.

Dei uma ajeitada no meu cabelo e fui aguardá-lo. Minha visão piora muito à noite e notei que ele estava acompanhado. Alguém estava com ele. “Filho da puta, cheio de sorriso, cheio de graça... veio com a mulher para me apresentar!!! Filho da puta desgraçado!!! Se ele pensa que vai me botar para bater papo com a mulher dele, está muito enganado...

Mas quando o carro se aproximou ele já foi abrindo a porta e mandado o carona para trás. Pude perceber que era um rapaz, de uns vinte e poucos anos. Dizia, afobado como sempre para entrar. Estava aliviada.

- Gina, esse é o Bruno... Pôxa, como você ta bonita... Quase nem te reconheci com esse cabelão... e loira ainda...

Dirigia olhando para mim... “Olha pra frente!”, pensei.

- Nós vamos dar uma passadinha na rua aqui de trás, onde está havendo o aniversário do filho desse cara, o Bruno. A mulher dele não queria me chamar mas acho que se chegar com o pai ninguém me bota pra fora... – ele achava a situação engraçada.

“Aí meu Deus, aonde ele vai me enfiar??”. Não podia reclamar também, havíamos acabado de nos encontrar.

Quando chegamos, a sogra do rapaz veio logo abraçando ele. Lembro-me de ouvir: “Ainda trouxe uma loira...”, achando que Bruno havia levado uma mulher para fazer ciúmes a ex-esposa. Houve um certo alívio no ar depois que peguei na mão de Manfredo.

A noite ainda foi longa. Na festa não tomou nem o segundo copo de cerveja e alegando que precisava botar o papo em dia comigo saiu da reunião. No carro, confidenciou-me que só queria ir lá pois haviam dito que ele não seria convidado. Ele nunca mudaria.
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