Passei numa confeitaria de Porto Velho outro dia para saborear um pedaço de bolo. Nem deveria, pois passando dos 40 a tendência do organismo é trabalhar com outro ritmo e os doces viram tecido adiposo.
Perder cem gramas é bem mais difícil do que ganhar dois quilos num final de semana. Aniversários e churrascadas são atraentes como o abismo para um tonto.
Mas na massa exposta no balcão gelado mergulhei numa imagem do passado, algo ali por 1974. Foi quando minha família tomou conhecimento dos bolos da dona Isolina, uma confeiteira da Vila Hauer, que vivia somente para adoçara a vida dos outros.
Seus bolos eram de apenas três tipos, pois a procura era tanta que não havia tempo para inventar fórmulas mágicas. Nossa família normalmente(meu pai é que era guloso e escolhia sempre o mesmo) escolhia o de morango, cuja massa era indiscutivelmente fantástica. O número de aniversários lá em casa era razoável(nove), e ainda sobrava o aniversário de casamento festas de final de ano.
Assim durante muitos anos dona Isolina ajudou a manter nossa forma ou a falta dela, com seus bolos encantadores. Ah leitor, nem imaginas o quanto eram deliciosos, água na boca.
Dona Isolina trabalhava nos bolos em tempo integral, e não raro ficava esgotada tal a procura. Um dia fui procurá-la, no final da década de 80, e soube que havia falecido.
Então meus pais passaram a comprar bolos no centro da cidade, do tipo floresta negra, que inclui chocolate, e outras coisas diferentes. Mas confesso que não eram tão bons quanto os da dona Isolina.
Embora não fossem baratos, tinham grande freguesia. Tinha duas filhas, mas elas acharam que estavam sendo escravizadas pela clientela, já que os sábados, domingos e feriados eram dias de pique, e deixaram de lado o ramo dos confeitos.
A Vila Hauer de Curitiba perdeu uma de suas personagens mais importantes, já que era uma mulher que trabalhava para adoçar a vida dos outros, com carinho, dedicação e acredito com muito amor, já que seu trabalho resultava em prazer para quem o conhecesse.
Comi o pedaço de bolo em Porto Velho pensando na dona Isolina, cujo talento adoçou a vida de centenas de pessoas durante umas três décadas. Deixo prá ela doces pensamentos de agradecimento.