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cronicas-->Memórias do menino engraxate -- 01/09/2003 - 15:08 (Sandro Bouth Guedes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Cinco horas da manhã, o céu estava escuro, parecia que ainda eram dez horas da noite, pelo menos a fome era a mesma, não havia comido nada desde ontem umas sete horas da noite quando chegou em casa com os dez reais que sobrou depois de um dia de trabalho. Comprou um feijãozinho, um quilo de arroz, dez pãezinhos e quando percebeu, não tinha nem pra ir trabalhar no dia seguinte. O céu estava muito escuro, podia ser um daqueles dias que não se deveria sair do lugar e eu deveria continuar ali dormindo como um anjo, a única diferença é que anjos não sentem fome...isso significa que realmente estava na hora de levantar e tentar fazer algum dinheiro naquele dia de muita preguiça. Tomou um banho rápido e comeu um pedaço do pão duro que ainda sobrara do outro dia, na verdade queria deixar o pão melhorzinho pra mãe e pro pai. O pai, coitado, estava com muitas dores na parte amputada que lhe deixa muito cansado, sei que ele fica louco de fome então fica um pãozinho pra deixar o dia do pai melhor.
Correu pra estação do trem e como de costume parou na barraquinha do Zé que vende aquele jornal, era o único jeito que tinha de se saber alguma coisa. Isso foi um hábito que criei uma vez que vi dois doutores conversando, eles falavam que o segredo do sucesso estava em saber falar sobre tudo, conversar sobre assuntos diversos, entender de tudo um pouco, eles diziam: "Correia, estamos na era da informação", foi daí que decidi ler o jornal de ponta a ponta todos os dias, minha mãe até que gostou e disse que estava ficando muito sabido pra minha idade, no alto dos meus quinze anos sabia que os juros altos, faziam parte de um esquema pra especulação económica, por isso que os preços não abaixam, quer dizer eu acho que é isso!!
Como sempre, o trem estava superlotado. A conversa é boa, nem me meto em papo de futebol mais, com o fogão na segunda. A dona que estava do meu lado me dizia, menino tu cresceu mesmo! Ela não tinha percebido que na verdade eu estava em cima da minha caixa de engraxar, para não ter que ficar segurando.
O centro da cidade se aproxima, vou descer no próximo, acho que hoje vou parar em frente ao Fórum, derrepente consigo uma gorjeta legal, são quase onze da manhã se eu encontro com um doutor de cara, ia ser bom.
Vai graxa aí doutor? Naquele momento pensei que ia ser outro dia de ganho fraco, não tinha nem cinco reais no bolso. O céu tava cinza da cor do terno do doutor que eu ofereci o serviço, vai graxa aí doutor? Ta custando três reais e olha que não estou cobrando os juros obrigatórios como de especulação económica! Ele riu e colocou seu pé lá comecei com todo o capricho ele tava de bom humor, derrepente me dava uma gorjeta forte. Mas doutor, o senhor que é um mestre com todo respeito cê num acha que este fome zero vai ajudar muita gente? É, eu ouvi falar que a tal reforma vai tirar umas regalias de uns camaradas que não fazem nada mesmo e que ganham até demais...o senhor do terno cinza prestava atenção no que eu estava falando. Acho que estava esgotando meu estoque de conhecimento do jornal do Zé.
Quer dizer então que você é um menino bem informado, você gosta de ler?
Pra mim não era novidade eu sempre lia mesmo. É doutor eu sempre leio, gosto de estar informado de tudo. Mas você estuda? Não, desde o ano passado não estudo mais, só estou trabalhando. Mas não estuda por que? Porque preciso do dinheiro pra levar pra casa. Tu mora aonde menino? No morro da Ladeira Santa lá no subúrbio. Quanto você tira por mês com o seu trabalho? Ah! uns cem, as vezes noventa, depende. É, tenho um filho da tua idade que só quer saber de praia e namoradinhas, detesta estudar. É doutor, as vezes a agente tem umas coisas não mão e não aproveitamos né? Eu gosto de matemática, mas hoje a única conta que faço é de quanto de dinheiro vou levar pra casa, meu pai perdeu uma perna em um acidente numa obra e hoje não trabalha mais e minha mãe faz limpeza na casa dos outros. É mesmo? e quanto sua mãe cobra? Não sei não! Nunca perguntei isso pra ela! Vocês tem telefone em casa? acho que vou conversar com sua mãe pra ela ir fazer uma faxina lá em casa. Telefone não tem não, mas a gente usa um orelhão em frente lá de casa e recebe ligação de lá. Hum! pra mim está ótimo você me da o número que vou falar com sua mãe, para ela fazer faxina para mim e você trabalhar de boy no meu escritório, você quer? Pra ganhar quanto doutor? Você?? uns duzentos reais tá bom? Vixe maria to rico! É sério doutor?? Sim e pode me chamar de seu José Maria. Obrigado seu José Maria, não vou nem mais ficar aqui hoje, vou pra casa contar pra mãe a novidade, vou trabalhar de boi no escritório do Dr. eiii! não, calma aí, não é boi é boy, uma espécie de mensageiro. Eu vou ligar pra sua mãe depois do almoço. Tá bom doutor, digo seu José Maria, seus sapatos estão limpinhos. Obrigado rapaz, tome leve 10 reais compre algo pra você comer em casa depois nos falaremos, vou ligar para sua mãe mais tarde. Tchau seu José Maria, até amanhã. Até amanhã rapaz, calma aí!! Como é seu nome? Meu nome é Jesus da Silva.
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