Felipe era um relojoeiro pacato e solitário, mas mesmo em sua vida rotineira e sedentária, medida pelo compassado tique-taque dos relógios, acalentava a doce esperança de um dia conhecer a Itália, a decantada pátria dos seus genitores. Como possuía escassos recursos financeiros, toda a poupança que fazia para alcançar seu objetivo já representava para ele o início daquele fascinante sonho.
O tempo foi passando e o dia venturoso chegou, até mais depressa do que havia pensado.
Já na terra de Garibaldi, cumprindo o roteiro das viagens turísticas, visitou a histórica Roma dos Césares, Milão, Veneza fabulosa, denominada “La Serenissima”, construída sobre as águas, flutuando acima do nível marítimo, com suas gôndolas coloridas, pontes, castelos medievais, as cento e vinte igrejas góticas renascentistas, mundialmente famosas.
Em todas as cidades percorridas, encontrou coisas maravilhosas, jamais imaginadas, mas Nápoles o encantou e enfeitiçou definitivamente.
Era a cidade dos seus queridos pais; bem diziam eles que nada no mundo se comparava à sua terra natal.
Realmente Nápoles é insinuante, tão bela que seria necessário inventar palavras para descrever seu encanto. Em nenhum lugar do planeta, dizem os que a conhecem, existe maior alegria, nem mais sorrisos para receber os visitantes.
Nascida há dois mil e quinhentos anos, às margens de uma magnífica baía, tem como cenário de fundo o Vesúvio, o terrível vulcão que soterrou Pompéia, mas que se encontra inativo desde mil novecentos e oitenta.
Pela manhã, o sol transforma a baía num mar imenso de faiscantes esmeraldas. À noite, como diz a velha canção, sob a lua de prata, até os peixes fazem amor.
Nápoles é indiscutivelmente encantadora e romântica; os italianos explicam com entusiasmo que, ao construí-la, usaram o Paraíso como modelo.
Além da beleza, a cidade é um centro histórico e cultural de grande repercussão no mundo moderno. Isso sem contar a “Nápoles gastronômica”, onde as pizzas, o spaghetti, os vinhos são a delícia dos turistas.
Outro motivo que sensibilizou Felipe foi ter conhecido Carmela, uma bela italiana que o deixou perdido de amores.
Aqueles dias de lazer, como tudo que é bom, passaram rapidamente. Terminado o roteiro turístico, Felipe teve de separar-se de tudo que o fizera feliz; quando se despediu de Carmela, prometeu que breve voltaria.
Antes de retornar, percebeu que ainda possuía dinheiro suficiente para adquirir algumas jóias italianas muito apreciadas no Brasil e que, vendendo-as, poderia com o lucro cobrir parte dos gastos da viagem.
Depois da compra realizada, Felipe estudou mil maneiras e artimanhas para ludibriar a Alfândega, que por certo no Brasil iria revistar sua bagagem. Mas infelizmente as coisas se complicaram e, aqui chegando, foi pilhado pela astúcia dos fiscais aduaneiros, que lhe confiscaram a mercadoria, sem piedade.
O fato foi um golpe rude na moral e nos planos de Felipe, que por alguns momentos não se conformava com a falta de sorte. Mas depois, como um general de batalha, assumiu os ares de vencedor da contenda e resmungou baixinho, totalmente aliviado:
— Não consegui passar com as jóias, mas passei facilmente com o maior contrabando que trouxe comigo: o imenso amor de Carmela. Ele está tão bem escondido, que não há alfândega no mundo capaz de arrebatá-lo do meu peito... |