saudade
Inútil confundir essa dor
(fingindo-a sob um riso morno e desenxabido)
com a cor agreste do sofrimento,
de um doer insano, quase irredento.
só tem saudade quem ama
ainda que amar implique
amizade simplesmente.
se é dor de saudade, não dilacera,
é fugaz, e feito raio e trovão,
precede a bonança do reencontro
nos corações precipitados, impacientes
como rebentos, plantas no invernadouro
remoçando.
é antes felicidade diferente
e justa paga compensando
os maltratos da distância,
os olhares interrompidos,
os desejos reprimidos,
as mãos intocadas pelos
encontros rareados nos ofícios
diários que lhes interditam.
nos dias de entressafra, arrima.;
na indigência de notícias, acode.;
nas queimadas do peito, chove.;
no calor, amansa o bravio e a
sequidão sem fim, dos corações
enfermos de ausências.
remedia, porém, a qualquer custo
o sofrimento essa saudade
e a tristeza por influência
e ao depois, posta a mudança
raios, trovões, serenidade,
nada mais resta, senão uma
aliviada e nostágica lembrança.
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