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Cronicas-->Cavalgar de carona -- 05/09/2003 - 00:55 (Christina Cabral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CAVALGAR DE CARONA

Sempre sonhei em ter um cavalo do sertão, desses que aguentam firme umas quinze léguas por dia. Um cavalo de sete palmos do casco à cernelha, de andar macio, mas que seja capaz de passar de marcha ao esquipado, levantando a poeira da estrada com seus cascos sem ferradura. Bom estradeiro! Quero-o "encapotado", desses que batem o queixo no peito, fazendo bela figura. Meu cavalo há de ser "gadelhudo", de pelos compridos e macios. Na cor, deveria ser branco, mas não gosto do nome "russo pombo", mesmo que seja branco-sujo, eu prefiro, porque será um legítimo "cardão". Cardão! Sonoro, folclórico! Eu o chamaria "Brioso". Que lindo nome para um cavalo cardão!

Ah, se eu pudesse contar, numa bravata:

- "Montei meu cavalo cardão, o Brioso, e, à passo esquipado, passamos pela porteira do Mundo! Vencemos escarpas, castanholamos nos lajedos, atravessamos carrascais de jurema, unha-de-gato, sabiá, rompe-gibão e coróa-de-frade. Enfrentamos os ventos quentes das caatingas, abrimos fendas no massapé ressequido das várzeas. Atravessamos leitos de rios secos, descansamos sob verde juazeiro, onde pendurei minha tipóia e fiquei observando os gaviões. os carcarás e cauãs, a voltearem no céu prateado. De lá, vi, onde a serra do Baturité encontra o céu, o corisco anunciando chuva! Meu Brioso ficou arisco, escavando o saibro grosso do chão. Ecoou o trovão! Outros mais, e ainda outros, acompanhando o estralejar do céu que se enegrecia! De onde estávamos, avistávamos o leito curvo de uma rio seco; pois lá ficamos os dois, assuntando, esperando ver o rio descer. Não há nada mais bonito, mais impressionante, do que o estrugir da cabeça d´água que, impetuosamente, desce, retomando o seu leito! E poder dizer: eu vi! eu vi!

Ah, se eu tivesse um cardão legítimo, marchador e resistente, iria buscar as avoantes! Iria vê-las aos bandos, aos milhares, escurecendo o céu e pousando, cobrindo as varjotas, os matos e as árvores. Que espetáculo! E quando alçam vóo, deixam o chão forrado de ovos, que se chocarão ao sol. Que terra esta!

Eu queria aprender a aboiar e tocar uma boiada. Não precisava ser um marchante, não, que é negocio muito precioso, de muita renda, muito menos um magarefe, que me horroriza a sangueira; queria ser um simples tangerino ou campeiro; um boiadeiro dos bons! Eu seria o "guia" e iria à frente, abrindo os peitos, minha voz chegaria até os cerros e ecoaria de quebrada em quebrada: "êêêêêê boi! ê bo-o-i!" e os "cabeceiras", logo atrás de mim, os "esteiras" no meio, os "costaneiras" cercando o gado e atrás, fechando a manada, os "do-coice", todos respondendo meus aboios, tremulando a voz e inundando o sertão de gritos sonoros, pungentes. Deve ser bom demais ter um sertão todo para se gritar!"

De fato não tenho um cavalo cardão, mas tenho um Gustavo Barroso a me conduzir, a me mostrar os encantos e as raridades do nosso sertão nordestino; tenho um Raimundo Girão, um Graciliano Ramos, um José Lins do Rego, um Rodolfo Teófilo, um Guimarães Rosa, um Luiz da Càmara Cascudo, um incrível Euclides da Cunha, e tantos outros escritores que me fazem a magia de possuir um cardão Brioso, que me aguçam a imaginação, e me soltam, livre, por este Brasil a fora, cantando:

" Mestre carreiro,
como chama o vosso boi?
Chama saudade
do amor que já se foi!

Mestre carreiro.
como chama o boi da guia?
Estrela d´alva,
quando vem rompendo o dia!

Mestre carreiro.
como chama o boi do meio?
chama esperança
do amor que ainda não veio!"

(do folclore - autor desconhecido)


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