Minhas palavras frias
não dignificaram tua luta.
Não foram suficientes
para elevar teu justo brado
a esse meu canto
de nossa mesma terra,
mais tua que minha,
a tua é vivida,
a minha é nua, em branco,
tu a andas enquanto eu a canto,
e o canto é sempre mais leve que o passo.
Tentei dar a minhas sílabas
a tônica de tua trajetória,
trajeto de projetos e sonhos de trabalho,
sonhos de homens irmãos
compartilhando pãos e terras.
És talvez mais inocente que eu,
seria tolo se esse posto não fosse meu,
mas tua inocência é falsa crença
de quem não tem escolha,
quando acreditar no que falta
é tudo o que resta.
Não sabes que
Esquecem de teu direito,
há leis onde haveria o abraço,
regras ao invés da liberdade
que encontra um homem em seu campo.
Não sabes até chegar aqui,
e aqui o que adianta saber?
Queria falar tudo isso,
mas sou jovem e tolo,
pouco sei de teu sangue,
pouco sei de tua lágrima.
Pouco sei de teu esforço,
pouco sei de tua lástima.
O pouco que sei li nos livros,
nas páginas esquecidas no pó das estantes,
o pouco que pouco fala,
pouco em palavras frias,
palavras lidas que lidam
com os que apenas as lêem
e não te vêem as escrevendo.
O calor desse instante interminável de tua gente
que caminha pé ante pé
rumo ao sonho infrutífero
gente como eu somente imagina.
Será a imaginação o sol das coisas,
a luz que falta às idéias?
Penso que és meu irmão,
viemos todos da mesma calúnia,
enfrentamos todos a mesma merda.
Somos filhos da mesma miséria,
tu com a tua, eu com a minha,
a minha por saber da tua,
a tua por ser mais sofrida.
Tenho que crer em ti
para crer em mim.
Acredito em nós
como quem não tem escolha,
quando acreditar no que falta
é tudo o que resta.
(Obra registrada)
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