Ao nascer, a Lua minguava e o Sol raiara lindamente. Um privilégio seguindo de desapontamento. Mas inexplicavelmente, o Bode repelia ao Sol e exaltava a noite numa espécie de bajulação pelo astro que tornou a face em recusa à visão do seu nascimento. Queria ser reconhecido pela senhora da noite. Ignorava que essa era apenas uma subalterna do dono do dia. ignorava também as estrelas, que de tanto vê-lo sofrer em busca da maternidade dispensada pelo satélite, derramavam vez ou outra uma gota cadente.
E passava a vida com a ilusão de que a Lua enchia-se só para ele. E quando borbulhava a paixão, lembrava-se do Jorge, marido da senhora, que na semana anterior a convidara para jantar fora, ou simplesmente vislumbrar o cosmos em algum outro ponto do céu. Então ela se arrumava toda. Mas era o Seu Jorge o redentor daquela beleza. E ele então a levava em seu jumento branco, e a dama ia sumindo, sumindo, até restar somente seu lugar no firmamento.
O Bode lamuriava-se até o céu pintar-se de infinitas cores, e surgir o Sol, belo e fogoso, com um sorriso convidando seu amigo a cantar consigo. Mas, estúpido como era, o caprino ia deitar-se e fazer sua própria escuridão, sem a Lua mesmo.
E por muito assim viveu: Alegrando-se quando a Lua voltava na garupa do jumento, ferindo-se quando se ia com Jorge.
E por muito o universo viviu com o Sol entristecendo-se com Bode, com a Lua ignorando-o, com Jorge amando o cosmos e este observando e chorando de vez em quando, sem nada mais poder fazer. |