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Cartas-->Carta autobiográfica 1 -- 05/02/2000 - 15:39 (Dimitri Entgegen) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Querido Amigo,

A semana inteira queria tivesses estado aqui para podermos conversar longamente a respeito de tudo que me tem acontecido. Pra você não é novidade, sei disso, mas pra mim é um mundo novo. Sinceramente, é como se, de repente, tivesse entrado numa adolescencia tardia. Uma adolescência que prorroguei por tanto tempo. Estranho que alguns etimologistas declaram que “adolescência” tem a mesma origem que “adoescer”. No meu caso, essa adolescência tardia tem mais cara de cura para todas as angústias que sentia, noites mal-dormidas, indagações vespertinas, crises exitenciais etc. É, de fato não deve ser adolescência, deve ser a maturidade. Acho que acabei de encerrar minha adolescência.
Como dizia antes, queria-te perto. Posso telefonar-te, mas como diz o Chico, “a tarifa não tem graça”. A alegria de conversar longamente com ti, causaria um rombo tão grande no meu bolso que achei melhor escrever. Cada um com sua habilidade. O Chico fez uma música e mandou uma fita.
Ontem, indo pro trabalho, tive de parar em um sinal. Muitas vezes estou tão entretido com minhas cantorias que me é indiferente parar no semáforo. Ontem não foi assim. Havia uma pedinte. Uma pedidnte com um riso estúpido. Um riso inclassificável. Não sei quanto tempo foi que o sinal ficou fechado, mas o sorriso me perseguiu o dia. Não sei se era um sorriso alegre, um sorriso que buscava simpatia ou um sorriso que implorava. Certamente me incomodou porque pedi a Deus que ela não chegasse a mim, pedindo. Isso me causou desespero. Como podia eu ter tais pensamentos e ainda envolver Deus neles? Esse mesmo Deus que os cristãos clamam ter vindo a Terra para se juntar aos excluídos e desprezados. Naquele momento Deus não deveria ter me ajudado. Ao contrário, deveria ter conduzido aquele sorriso estúpido até a minha janela para que eu tivesse a chance de desvendar os mistérios de uma boca desdentada que se entreabria, mostrando as crueldades de uma sociedade desigual. Não foi assim. O sinal abriu e o sorriso me perseguiu durante um dia todo, uma noite toda. Ainda penso nele. Talvez o tal sorriso e Deus também tenham conseguido atingir seus objetivos.
Esses dias estou lendo, ou tentando, um trabalho do Camus. Uma das frases que me chamou a atenção, em fim de capítulo, é assim “ Sim, tudo é simples. São os homens que complicam as coisas. Que não nos venham dizer, sobre o condenado à morte: ‘Vai pagar sua dívida com a sociedade’, e sim: ‘Vão cortar-lhe o pescoço.’ Isso não parece nada. Mas faz uma pequena diferença. E, depois, há gente que prefere olhar o seu destino nos olhos.”
O fato talvez seja esse. Eu realmente gosto de olhar meu destino nos olhos.

Semana que vem te encho mais o saco,
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