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Cronicas-->UM VIAJANTE DO TEMPO NUMA CIDADE SEM-MEMÓRIA E MENDICANTE -- 13/09/2003 - 07:55 (Carlos Jatobá) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

UM VIAJANTE DO TEMPO NUMA CIDADE SEM-MEMÓRIA E MENDICANTE*


por Carlos Jatobá


  
  Em minha promenade pelo centro do Recife, sigo com destino à esquina das ruas da Imperatriz Tereza Cristina (antiga Aterro da Boa Vista) e Bulhões Marques (antigo "beco do bonde", hoje um apêndice da Sete de Setembro). Sinto-me estar, como um nauta, transcendendo o tempo e o espaço. Subvertendo, de certa forma, a cronologia.


Pareço divisar, nessa mesma esquina, o solar assobradado de número 39 (atualmente renumerado para 147) pertencente ao Exmo. Sr. José Thomaz Nabuco (então futuro senador do Império) e sua consorte Sra. D. Ana Benigna. Aproximo-me e estaciono. Os ares, pelo gáudio desprendido e sentido, são de "sarau de cavatina". Ouço, ao fundo, próximo à edícula, um mavioso coralito solvejando a cantata 147 de Bach: Herz Und Mund Und Tat Und Leben, acompanhado de oboé-fagote-violino.


Desço do cabriolé ao pé da acácia ali existente, que servia - premonitoriamente - de umbral à edificação. Advirto ao cocheiro (um pardo forro, de compleição taurina; envergando alva libré e chapéu de copa-alta) que minha permanência é célere como uma vista d´olhos e adentro ao sobrado.


O Conselheiro Nabuco, esfuziante e longe do burburinho da corte imperial, recebe-me à soleira com um coloquial: - Boas tardes, meu amigo! Bons ventos o tragam! Apraz-me vê-lo! Nasceu-me, o herdeiro querido!


O médico da família, as enfermeiras, ais e mucamas: todos continuam a postos para evitar-se algum deus-nos-acuda do resguardo. Estamos, pois, a 19 de agosto de 1849. O céu, ausente de nimbus e cirrus e emoldurando-se em cumulus, associa-se às comemorações.


Nisso, saio desse "transe" inominável ao ser interpelado por um senhor de meia-idade que me pergunta: - Está interessado no imóvel, cavalheiro? Estamos com uma promoção irrecusável!... Encarando-o fixamente, agradeço dizendo-lhe que não estava. Deixo, incontinenti, o corretor apregoando aos ventos. Saio com destino à velha Matriz da Boa Vista.


Só aí chego à realidade. Estou em 2003. Não mais existe o Solar dos Nabuco. O berço do diplomata, político e abolicionista Joaquim Nabuco é pouco mais que cal, pedra e cimento. Também, alvo da sanha de "pichadores" e vàndalos. Talvez, o velho "Massangana" pudesse ser lembrado. Isso faz parte da História.


Mais uma vez intuo que, em nossa cidade, ao alargarmos ruas podemos estar estreitando mentes. Somos pobres na preservação da memória histórica; mas, ricos na assimilação da dita virtual.


Sigo meu caminho. Já em pleno templo, apronto-me para uma silenciosa oração não-genuflexa e fixa na luz do altar-mor. Nesse instante, sinto duas mãos firmes e calejadas sobre meus punhos, de uma mulher sexagenária e mais, de tez amorenada qual curiboca e olhar esfumaçado de um peri-cristalino, que parece purgar àmbar, pedindo-me: - Me dá 1 real aí!...


 


*Crónica do autor publicada na FOLHA DE PERNAMBUCO,


Recife-PE., em 07/09/2003, Caderno de Economia, página 8.


 

 

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