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Cronicas-->Perdido na Metrópole (33) O Telefone -- 13/09/2003 - 10:00 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Agora, além do seu celular-tijolo, o Perdido na Metrópole tem também telefone fixo em casa. Mais chic do que nunca!

Vocês, com certeza, irão perguntar...O que isto tem demais?
Pode parecer algo banal. Para mim não é. É a primeira vez que moro sozinho na vida. O telefone agora é só meu! Todo meu!

Desde que retornei à metrópole venho conquistando, um a um, todos os itens comuns a qualquer cidadão.

Sou da época Pré-Jurássica em que linha telefónica era património. Tinha gente que alugava, comercializava e vivia exclusivamente disto. Com a privatização do serviço esta mamata acabou. Hoje em dia, pagamos uma taxa à empresa e pronto.

Liguei à companhia telefónica para solicitar uma. Minha kitchenette conectada ao mundo! Achei que levaria séculos. Que nada! No dia seguinte retornaram. Uma simpática mocinha queria confirmar a operação e acertar a instalação em 24 horas. Serviço The Flash. Só que a dita cuja não falou nada referente a pagamentos e nem eu perguntei. Burro! Sua simpatia era tanta e minha ansiedade tamanha que não atinei para o óbvio. Neste mundo nada é de graça. Era tarde demais. Tinha dez dias corridos para pagar os R$ 89,00.

Tenho a certeza que a mocinha com voz de veludo não falou nada em relação a dinheiro. Não autorizaria a ligação tão rapidamente, pelo simples fato de não ter disponibilidade financeira naquele momento. Pensei que teria de pagar somente após a instalação, na conta, e a perder de vista. Algo baratinho. Lembro apenas de me ter sido oferecido um serviço de manutenção, algo em torno de R$ 3,00, R$ 4,00 mensais (promoção), para, caso fosse necessário, não precisasse pagar o preço de tabela. Caí na besteira de dizer não. Meus dois neurónios raciocinaram: não somos tão azarados para precisar da visita de técnicos tão cedo. Ledo engano.

Conversando com o Seu Santos, o zelador do meu prédio, fiquei sabendo que a companhia deixa a linha prontinha para funcionar, mas que não entra no apartamento para complementar o serviço. Para isto seria necessário solicitar um técnico da companhia ou alguém capacitado (não é o meu caso) e de pagar a tal taxa que recusei naquele crucial momento.

Liguei para a mesma mocinha para dizer que tinha mudado de idéia. Não a encontrei. Por que será? Atendeu um rapaz com voz de segurança de necrotério. Conclusão: deveria ter topado a oferta anterior. Agora, a promoção não valia mais. Isto é incrível! Ninguém pode mais mudar de idéia neste país! Deve ser nova lei federal! Disse suplicante não ter sido avisado dos R$ 89,00 e que precisava parcelar o pagamento. Negativo! Chorei, reclamei, implorei, ajoelhei, rezei e não adiantou.

- Como que o senhor solicita uma linha telefónica sem saber que teria de pagar? E se não sabia, por que não perguntou?
- Mas... mamamas! (a costumeira gagueira nervosa atacou).

Não teve jeito. Não poderia confessar ser um desligado mental. Paguei com atraso, mas paguei.

Faltava outro detalhezinho! O aparelho. Tinha só a linha. Lá fui eu comprar o dito trambolho. Destino: Rua Santa Efigênia, centro de São Paulo, perto do escritório em que trabalho. Nesta rua vende-se de tudo o que é da área elétrica, eletrónica, informática, telefónica...

Peregrinei caçando o mais barato. Tinha dez reais nos bolsos. Na primeira loja, decepção. R$ 35,00 o modelo mais simples. Na segunda, R$ 30,00...E assim por diante. Até achar a feira da telefonia. Telefones usados vendidos à baciada. Comprei o meu por R$ 10,00. Dé real. Ninguém (ou quase ninguém) fala mais dezzz reaisss. É dé real, dó real...Dei o que tinha e segui feliz para meu lar.

Quem disse que funcionou? Por acaso tive o cuidado de mandar testar? Não! Com a nota fiscal, voltei à feira-loja para a troca.

Sempre sonhei em ter uma secretária eletrónica. Só que secretária em casa não é de bom tom. Doméstica eletrónica? Muito brega! Criei o Robert Richards, meu mordomo eletrónico.

Hora de gravar a mensagem. Tarefa nada fácil para um gago. Tinha meros trinta segundos para registrar o texto cuidadosamente redigido. Uma máquina falava com toda a paciência deste mundo: para gravar uma nova mensagem disque 3, para ouvir disque 4, para ir ao banheiro disque 5... Resumindo...Uma hora e quinze minutos ao telefone. Errava, apagava e começava tudo outra vez. Odisséia fonética. Quando conseguia falar sem gaguejar acabava o tempo. Tinha de ouvir todo o menu de opções novamente. Decorei os textos. O meu e o da Telefónica. Quis inventar algo engraçado e me dei mal. Não tenho a mínima veia humorística.

Também! Notem o tamanho do texto escolhido.

- Você ligou para o Perdido na Metrópole, assessor de imprensa do Yslauss, colunista, artista plástico, sexólogo, dermatologista, eletricista, chaveiro, encanador...Graduado em Harvard e Oxford. Como está perdido nas ruas desta cidade...Deixe o seu recado após o sinal.

Palhaçada! Brincadeira de quem não tem o que fazer. Admito.

Neste momento estou preocupado com o valor da conta. Terei de pagar mesmo?

Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista. silvioalvarez@terra.com.br
Ilustração - Bruno César: brunoartes@uol.com.br




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