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Cartas-->Para MILENE ARDER -- 07/07/2001 - 18:33 (Fernando Tanajura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estimada Milene,

Muito oportuna a sua colocação que “a união faz a força” sobre a mobilização rápida dos escritores quando o desaparecimento do Usina. Fortuito também seu questionamento sobre por que não existe uma mobilização “dos seres humanos para resolverem os grandes problemas da seca, fome, e tantas misérias outras que massacram os desprotegidos deste mundo”. Ter idéias e mobilizar as pessoas não é uma coisa tão rara. Difícil é colocar essas idéias e mobilizações em prática. No nosso caso brasileiro em particular temos que considerar que a indústria da fome e da corrupção está na cultura nativa e cada dia que passa fica mais difícil reverter a situação e mudar essa mentalidade, até que uma catástrofe aconteça. Consideremos que há pouco mais de cem anos ainda vivíamos em um regime escravocrata onde um “rei” (Imperador d. Pedro II) pregrava uma monarquia constitucional em pleno Novo Mundo - a única das Américas - onde dois terços da população era de escravos, índios e pobres. Isso que os livros e os professores nos ensinaram na escola de sermos privilegiados em termos uma realeza e toda sua corte com condes, viscondes, marqueses, etc. era uma coisa inexistente nos outros países da América além de, na época, já ser uma coisa ultrapassada e decadente na Europa, de onde tentamos copiar um modelo de civilização. A corte vivia a e de explorar essa população, coisa que a elite, no decorrer do século subseqüente da queda da monarquia, não fez questão de mudar. Ele próprio, o Imperador, no final do seu reinado, não dava bolas para as mazelas e os problemas que o cercavam, que são os mesmíssimos de hoje, nem respeitava direitos nem deveres dos cidadãos nem aqui nem no exterior [veja o calote que ele deu no hotel onde se hospedou com sua enorme comitiva em Portugal na sua segunda viagem à Europa, alegando uma conta muito alta; mesmo com a ida ao Brasil de d. Henriqueta Alvellos, proprietária do hotel, que entrou em estado de falência depois desse calote, ele se negou a pagar a conta; mesmo ela tendo colocado a boca no trombone através da impensa reclamando seus direitos, a conta não foi paga]. Depois da monarquia veio uma República capenga de marechais, generais e tantos militares que se degladiam, renunciam, tecem golpes e intrigas, puxam tapetes, traem a depender de seus interesses pessoais. Esses governos militares são intercalados esporadicamente por civis que, num país onde uma boa proporção da população é analfabeta ou semi-analfabeta e o voto é obrigatório, dá para questionar os períodos “democráticos” por que passamos. Na maioria das vezes, esses governos civis também colocaram e colocam seus interesses pessoais e familiares acima dos problemas que já estamos cansados de conhecer: educação, habitação, alimentação, distribuição de renda, energia, irrigação, etc. Falando em irrigação, assisti a um documentário há cerca 20 anos feito pela BBC em que faz uma análise da seca do Nordeste brasileiro. O problema da seca não é falta de água. Água tem muita no Nordeste e essa vai toda, pura e cristalina, para o mar sem utilização. O problema é irrigação e as sete famílias que dominam a água na região não abrem mão do seu poder, mantendo destarte a miséria e suas indústrias conseqüentes. Se está em documentário na televisão, eu não sou o único a saber disso. Existe um processo de desapropriação desses mananciais a bem do serviço público? Certamente que não. Então dá-se um pão, um pouco de comida, uma roupa usada, um chapéu ou outro qualquer paliativo para demonstrar caridade e condescendência. Ora, isso não vai resolver o problema porque amanhã o pão acabou e roupa que já era usada envelheceu e tudo continua como era antes. Lembro aqui um antigo provérbio chinês que transcrevo com as minhas palavras: não adianta dar o peixe a quem tem fome, tem-se que ensinar a pescar. Tenho uma casa em Salvador no bairro da Ribeira onde vivi a minha adolescência. No caminho da Ribeira fica o bairro de Roma, onde a praça principal abriga as Obras Assistenciais de Irmã Dulce. É um empreendimento grande que distribui gratuitamente comida, roupas, dá assistência médica e hospitalar aos necessitados e carentes. Cada vez que passo por lá, há quase meio século!, o número de pobres e miseráveis é maior. Faço esta colocação não para negar ou contestar uma obra belíssima feita por uma mulher que deu sua saúde e sua vida pela causa que acreditava e é reconhecida como uma santa, inclusive a Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana tem um processo de beatificação em estado bem adiantado ou de conclusão. Conheci Irmã Dulce de vista muitas vezes em que passava de ônibus e a via se entregando à Caridade. A minha falecida mãe, d. Maria Tanajura, em bem menores proporções, deixou um legado que uma das minhas irmãs continua, uma atividade que dura por mais de trinta anos: a obra assitencial do Berçário. Consta esta obra em organizar enxovais para bebês de mães solteiras e desamparadas que são distribuídos no dia de Santa Clara [minha mãe era Irmã Terceira Franciscana]. Essas duas obras citadas, entre muitas espalhadas por esses brasis, são bonitas, santas porém românticas pois só alivia o problema sem resolvê-lo. Cada ano que passa o número de mães solteiras carentes, pobres, famintos e miseráveis é maior. Deixo claro que não nego ou repudio tais iniciativas, muito pelo contrário, acho que deveriam existir muito mais obras desse tipo, mas se quisermos uma solução para tais problemas, o fundo do poço é mais embaixo.

Um abraço saudoso de sempre.
F.



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