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Erotico-->Sinhá Liga? -- 26/10/2001 - 10:28 (MIGUEL ANGEL FERNANDEZ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(...) Fazia três longos dias que não se viam, mas nesse instante lá finalmente estava o corpo todo e nu a esperar. De bruços na cama, parecia dormir. Segurando a taça de champanhe, Magda derrubou no seu interior uma dose de cocaína que, misturada à bebida, fez aumentar a efervescência. Depois de beber um trago, chegou-se até a borda da cama e ficou a observar: a luz caprichosa e pouca iluminando em vários tons de intensidade o corpo quase imóvel e acafetado. Marrom mais claro no traseiro arrebitado, preto intenso no meio das costas, café no braço sólido em cujo extremo dois dedos da mão direita brincavam de perninhas caminhantes pelo chão. "Devia estar jogando futebol." Sim, ele estava aguardando, inocente e provocador. Magda tirou a pouca roupa restante após os preâmbulos eróticos que a deixaram no limite exato da excitação e cuja secreção já umidificara até os lábios da vulva. Agora nua, subiu na cama. A partir dos pés dele, de joelhos abertos foi chegando até encaixar o traseiro entre suas pernas. Num forte aperto, sentiu o útero se expandir e, meneando os quadris, esfregou-se nele, criando ondas elétricas prontas a desabar em centelhas sobre ele. Suas longas unhas arranharam de leve a nuca, os ombros, desceram pelas costas, chegaram nas coxas, agarraram o traseiro. Adorava ver o contraste de sua pele branca com a dele. Na primeira relação que tiveram, enquanto o carnaval explodia nas ruas, voltara o orgasmo tão duradouro e elétrico, iguais aos experimentados na fazenda há muito tempo com um outro negro, Tonho.; também obsequioso a princípio, o peão fizera com ela - a seu pedido - o que bem quisera. E sua inconveniente virgindade desaparecera finalmente. Recordou para sempre os desfrutes daquele verão. Na primeira vez, ele teria pouco mais de vinte anos quando lhe ordenara que a acompanhasse na cavalgada. Hora depois, chegaram num riacho.; ofegantes da galopada, desceram da montaria. Num repente, ela arrancara as botas, a roupa, e nua, mergulhara na água. Ordenando para o espantado peão: "Vai, moleque, tira esses trapos e entra n água também!" Tímido, mas obediente, tirara os trapos detrás dum arbusto e mergulhara imediatamente. Algum tempo depois de esfregas e lambidas, ele perdera toda a timidez cabocla e desatara o animal escondido dentro dele, deixando-a louca de desejo. Até lhe ordenar: "Vem cá, nego, me estupra! Aqui, nesta lama. Me chama de Vasmicê, Sinhá, igual teu pai, escravo da minha mãe! Me come, me morde, desgraçado!" Muitos domingos estariam esperando por cavalgadas assim.
Mordia os lábios ocultando o riso quando lhe aconselhavam amenizar suas cavalgadas cotidianas, origem certa daquelas dores nas pernas e nas costas de que se queixara sem se dar conta. (...)
Chorou e depois masturbou-se até sangrar. A sensação do membro na boca, entre suas pernas e dentro dela, ficou por muito tempo. Na verdade, aquele formigamento permanecera toda sua vida, acompanhando a umidade da vagina e sua excitação quase permanente.
(...)
Certeza a branquela queria era só seu picaçu. Além disso, gosta de mordiscar o pinguelo dela até fazê-la chorar de satisfação! Derramou lentamente um pouco de bebida nas suas costas.; isso o fez reagir arrepiado, virando-se e expondo o "picaçu" já ereto. Sua dureza ela constatou ao apertá-lo carinhosamente. Sorriram simultaneamente, cúmplices no mudo comentário sobre tamanho e solidez. Servindo-se da garrafa, encheu de novo o cálice ainda com resquícios de cocaína e, após beber um gole, deixou o resto para bochechar. Inclinou-se e borrifou em cima da ponta escura, antes de introduzi-la naturalmente na boca. O líquido borbulhante provocou nele mais arrepios. A língua acariciou a glande com rápidos movimentos, fazendo o frênulo tremer. Restos de bebida derramando da boca umedeciam e perfumavam ainda mais o fruto carnoso do seu "cabeça-de-negro". Sentiu os dedos procurando a vulva ardente e tão molhada como o que possuía na boca. Facilitou o encontro com movimento lânguido. E tinha secura por mulher branca que gosta de sem-vergonheza. "Sinhá", "Vosmecê". Assim gosta que a chame. Graças a Deus tem tarimba pros assuntos de bimbada. Contrariamente não estaria levando essa vadiação tão boa. Não é, seu bicho preto? (...) Estaria amando o belo animal? Melhor seria tudo não passar da dolorosa, doce e perversa volúpia. Ou o nome que tivesse essa urgência quase constante de ser penetrada por ele, invadindo todas suas fendas, apaziguando o furor de seu útero, consumindo e sugando todas as faculdades mentais que os diferenciavam dos animais. A tetéia vai chegando e, sem dizer "Oi!", arranca suas calças, pega nas prendas, amola seu canivete de fazer gosto té demais. Quando tão excitado, no trevareio, pede pelo amor de Deus, mas ela ri fazendo chapuletada na barriga que nem o jumento da fazenda, diz ela. Segura a vara que nem chicote até esporrar, espalhando pra todo lado.(...) Melhor era tirar essas idéias da cabeça e se deleitar com a outra cabeça dele, a que estava na sua garganta. O resto não importava, ele não precisava pensar. (...) Mas esta aqui, vistosona por demais! A grossura de milho, saindo e entrando até a garganta.; pouco depois passar a língua em toda a extensão.; as mãos acariciando os testículos e sentindo a fragrância.; a volúpia de proporcionar prazer similar não lhe permitia considerar a possibilidade de aquilo acabar. Talvez ele estivesse apaixonado por ela. "Fantasia divertida e diabólica, Magda." Por que não? Afinal, não existia chance nenhuma de ele encontrar mulher assim feito ela, branca, fogosa e gostosa, rica e... puta! "Se fugisse da mesma maneira que fez o outro negro safado?" Antes disso o mandaria matar, ou ela mesma o faria. Tipão de mulher! Chaleira só da sua birimbela, o que interessa pr ela. Só depois de muita sacanagem montava naquela égua branca, trotando até arrebentar. Ela não disse que finalmente tinha conseguido tora de home vistoso na sua vida? Até escrevera versos pr ele! Gostou disso, seu tição do inferno? No momento em que, abocanhador, mergulhou entre suas pernas sem ela precisar largar o que possuía na boca, nem terremoto moralista quatrocentista conseguiria arrancá-la dali ou impedi-la de continuar. Logo mais, atingindo o limite do gozo, ele virou-se estabanado, arrancando o membro da boca dela. Nesse movimento inesperado os dentes rasgaram de leve a pele. Ele mordeu o lábio mais por surpresa e aflição e olhou o membro ferido: sangue se misturava à saliva e ao champanhe. Ela fez menção de levá-lo de novo à boca como a ampará-lo, mas ele deu-lhe um tabefe e empurrão, fazendo a garrafa de champanhe virar, derramar o resto sobre a cama e ela tombar de costas. Com o impacto as molas rangeram ruidosamente. Montou sobre ela agarrando com força a garganta até o limite do sufoco.; apartando-lhe as pernas, furioso a penetrou. Rebolando o toco morno e sangrento, esfregava-o, entranhado na vagina em vaivém vigoroso, abocanhando lábios e garganta alternadamente. Acelerou os movimentos ao sentir os músculos da vagina fechando em torno dele, sugando-o. E então... então o orgasmo vindo a paralisá-la pouco a pouco, espasmo voluptuoso a eletrificá-la, vindo, bem-recebido, bem-pungente, vindo, "bem-vindo amor!" Nem sequer os anjos do céu (não estava no zênite?) nem capetas do inferno (não estava também nele?) teriam poder para deter o momento que ansiava eternizar. "Morrer assim", soluçou entre dentes. No frenesi à beira do desmaio, o último som ouvido foi o alarido do gozo dele, o esfrega-esfrega dos seios suados no seu torso e o compasso das molas da cama. Desfaleceu molhada de esperma, sangue, champanhe e lágrimas.

Fragmento de capítulo do romance de Miguel Angel Fernandez "A CENA MUDA"
http://br.geocities.com/mangel_arlt
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