Outono, neblina, odor de fumaça. Barcos em movimento simbolizam o sofrimento dos que lutam pela vida. Os que lutam pela vida precisam matar para não morrer. Todos precisamos matar para não morrer.
Ainda ontem, antes de chegar do interior, via a solidariedade como uma lição. Meu pai é um homem solidário, mas os homens daqui não são.
Até quando conseguirei reter a idoneidade que aprendi na minha cidade? Nunca mais levarei o rebanho para o pasto. A água, que aqui sobra, ensinou-me a saber dividir com muita precisão no semi-árido. A riqueza, que aqui fica suja e depois escoa pelos bueiros, ensinou-me a respeitar, inclusive, os animais do lugar de onde eu vim.
Quem nunca viveu a dor jamais dará valor ao prazer como eu darei. A dor dos que vivem por aqui, para mim, será um prazer.
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