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Discursos-->UMA HISTÓRIA MACABRA -- 21/05/2001 - 20:23 (Rodrigo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ansiedade e Desespero

Era extremamente difícil esconder a felicidade de Carlos, que transbordava pela suas feições, quando aquela encomenda chegara em sua casa...

-- "Finalmente." Dizia ele. "Agora chegou."

Ele tinha acabado de comprar o mais moderno dos computadores, o último modelo, com aceleração 3D, placa de som de última geração e tudo o mais...

--"Agora meus colegas verão... me tornarei o maior... eles sempre tiram uma com a minha cara...".

Sua sensação de status elevara-se ao extremo com aquela maravilhosa máquina...

--"Posso fazer meus próprios softwares... todos morrerão de inveja."

Montara sua "Máquina de Poder" e se sentiu extremamente aliviado... afinal, ele era um garoto esperto... sempre soube lidar com as máquinas... sempre fora um dos primeiros a aprender a lidar com esses aparatos eletrônicos desses tempos modernos...

Seu coração batia mais e mais rápido... ligou o seu computador e...

Tudo funcionando perfeitamente... sentia-se poderoso... "Eu consigo... monto eu mesmo... não preciso de ninguém para me ajudar... eu sou o melhor...".

Logo na primeira semana ficou "brincando" com os manuais... lia e relia-os, e ao final da mesma já dominava o sistema operacional de última geração... interface gráfica e tudo o mais... tudo para ajudar os usuários... "E aqueles tolos ainda precisam de aulinhas de como mexer nisso!!! HÁ!".

Fazia de tudo... com todos os programas... mas não era o suficiente... queria mais... queria criar os seus próprios, por isso, economizou o suficiente, foi à livraria mais próxima e comprou alguns livros de programação... os mais atuais...

Foram aproximadamente dois meses lendo e relendo os livros, sabia de tudo o que tinha nas especificações... agora era a hora da prática... sentou em sua máquina dos sonhos, estralou os dedos como quem diz "é agora", abriu o livro no primeiro exemplo e começou a digitar... letra por letra, comando por comando...

Ao final do dia tinha diversos programinhas feitos... (todos como que os livros diziam que seriam):

Um programa que imprime uma mensagem na tela, outro organizava uma lista de números em ordem crescente e decrescente, outro criava uma série matemática (como aquelas em que ele era fascinado quando na escola), e o último gravava alguns dados no disco rígido de sua máquina, ou "belezinha" como ele a chamava...

Passava noites e noites em claro fazendo seus programinhas básicos... sempre com aquelas pequenas aplicações para se usar na escola...

Como era bom... ele já era o melhor aluno... agora então, nem se fala...

Carlos sempre foi um aluno exemplar... com exceção das matérias de artes... nunca conseguia desenhar uma linha reta sem o auxílio de um aparato... ou fazer um simples desenho...

Ao final do terceiro mês, Carlos estava cansado de suas "aplicações básicas" em seu computador... sentia que precisava de algo mais... ele precisava criar coisas maiores... precisava dar vida à sua "belezinha"...

Comprou então o mais recente (e recomendado) livro de computação gráfica...

"Agora sim... eu crio meus programas... uso só uma parte do livro e depois invento... crio... penso... escrevo... eu sou o maior... eu posso...".

Carlos leu o livro como que num estalar de dedos... tinha tudo em sua mente... sabia como criar retas, curvas, elipses, círculos, formas diversas e das mais variadas cores... tudo como estava no livro...

Foi à cozinha, pegou uma garrafa de Coca-Cola, um pacote de biscoitos e disse consigo mesmo: "Tá na hora"...

Como sempre fazia, estralou os dedos, sentou na frente do computador e.... NADA...

Balançou sua cabeça, tomou um gole da Coca, pegou um CD do Handel e colocou para tocar.

Pegou o teclado, e começou a digitar comandos desconexos... ao final da noite, tinha um programa simples de desenho... tão simples que era impossível criar alguma coisa de útil com ele... só desenhava retas e círculos...

Carlos olhou para "aquilo" e pensou: "Normal... com a prática eu consigo mais..." e foi dormir.

No dia seguinte, a mesma rotina: Coca, biscoitos, computador e... nada em mente...

Novamente começou a digitar comandos desconexos... e ao final do dia, Carlos tinha uma animação... ele tinha feito uma animação!!! Um quadrado que se movia na tela..."Grande coisa" - pensou ele - "um quadrado...".

Carlos queria mais... ele era orgulhoso demais de si mesmo para criar coisas simples como aquela...

Foi tomar um banho, deitou-se um pouco, mas estava tão exausto, e tão ansioso por criar uma coisa grandiosa, que não conseguiu dormir... voltou ao seu computador...

"Vai ser agora..."

Fechou a janela de seu quarto, colocou uma música bem alta, para que não ouvisse mais nada além dela e, logo, não ser incomodado por ninguém, sentou-se, colocou os dedos no teclado... ele sentia que precisava fazer aquilo... precisava... ele tinha que dar vida a uma coisa que lhe trouxe tanta alegria, orgulho e uma sensação de status soberba... ele tinha!!!

Fechou os olhos e pensou... e pensou... e pensou... e... nada...

"Eu tenho... eu devo..." - eram seus pensamentos...

Acabou se cansando demais e foi para a cama...

Acordou e voltou à sua máquina dos sonhos... e finalmente conseguiu um pequeno software... um mais útil... ele finalmente fez algo...

Pegando seu livro de física, Carlos estudou as equações e criou um software que simula a órbita das partículas dos átomos...

"Pelo menos eu posso vender isso para o pessoal da escola... eles verão quem é que manda afinal...".

Foi tomar um banho... e deitou-se... querendo MAIS...

Sua cabeça doía, suas pernas tremiam... ele suava frio... ele precisava de mais, MAIS, MUITO MAIS!!!...

Voltou ao seu computador... delirando... ele queria, ele precisava criar... precisava, mas não conseguia...

Você já se sentiu como que querendo, devendo gritar, mas como se você não tivesse boca para isso? Pois era assim que Carlos se sentia... indefeso, fraco, porém devendo fazer aquilo... era uma obrigação, ele tinha que fazer...

Fechou os olhos e tentou imaginar algo... em vão..., apertou-os ainda mais e mais, mas cada vez a escuridão em sua mente se tornava mais intensa... ele tinha... ele devia criar... era uma obrigação dele... sua reputação dependia disso... logo logo seus colegas iriam tirar uma com a sua cara porque ele não fazia nada de útil...

Pois a mão na cabeça... foi na geladeira... uma cerveja!!!

"A gente sempre fica mais entretido, aliviado e criativo com um pouco de entorpecente no corpo" - pensou ele.

Pegou a cerveja e em um só gole esvaziou a garrafa.

Voltou à sua obrigação... ele tinha que fazer!!!

Pois os dedos no teclado e começou a digitar...

Digitava e digitava... mas nada saía... e digitava mais e mais, e maior e maior era o vazio em sua cabeça... e digitava... e nada saía...

Foi para a cozinha... devia ter outra garrafa de cerveja lá... ele precisava disso... ele precisava criar...

Pegou a Segunda garrafa... e como da primeira vez, bebeu-a de um só gole... e resolveu ficar pensando ali na cozinha mesmo... (afinal ele estava cansado e sonolento demais para ir até o quarto...)

Como com quase todas as pessoas embriagadas, ele deu um salto. E como num passe de mágica, disse: "A cidade... ela vai me ajudar... é só eu olhar para ela... sempre funciona quando não consigo resolver meus problemas...".

E foi à varanda... um vento morno bateu em sua face, acentuando ainda mais sua embriaguez... e contemplou a cidade... contemplou-a através de seu abismo... e ele olhou para o abismo... que correspondeu da mesma forma...

E Carlos não sabendo o que fazer, e ainda mais desesperado, foi cambaleando ao seu quarto, pegou um pedaço de papel e começou a escrever... voltou à varanda, deixando o papel em cima da mesinha da sala ao passar por ela...

E Ele contemplou o abismo... que o contemplava...

Seus pais chegariam logo... e ele não tinha ido dormir ainda... no dia seguinte ele voltaria às aulas... "Eu PRECISO!!! EU TENHO QUE FAZER", gritou ele com uma voz estridente, acordando seus vizinhos...

E fez...

Ao chegar em casa, dois minutos após, seus pais somente encontraram um pedaço de papel em cima da mesinha da sala com os seguintes dizeres:

"

Eu fiz tudo o possível, dei tudo de mim... mas ele queria mais, e sempre mais, e sempre mais... eu não consegui... mas eu devia... eu precisava...

Tentei fazer de tudo... eu juro que sim... mas essa foi a única solução que encontrei, a única coisa em que pude pensar... eu tinha que me livrar...

ADEUS!

"

Ao verem a porta da varanda aberta, os pais de Carlos, em desespero tentaram não acreditar na realidade... mas aconteceu... e do décimo quinto andar, Carlos Endelion finalmente se libertou de sua obrigação...
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