Nessa gostosa manhã de domingo, sinto que é fechando os olhos mais uma vez que consigo enxergar melhor. Não, eu não estou dormindo, ao contrário, estou bem acordada, aliás estou acordada desde ontem, porque o sol invandiu meu quarto à noite, e eu "Ouvi dizer que são milagres noites com sol", como diz Flavio Venturini, numa música que mais parece uma oração a pedir "um amor que me conceda noites com sol". Não,ele ainda não chegou para mim, mas é claro que eu pedi, não perderia essa oportunidade maravilhosa.
Por enquanto foi um outro amor que me trouxe o sol durante a noite, um amor que me protege sempre e que nem preciso pedir, vem espontaneamente. Pude num instante lembrar-me mais uma vez das margaridas da vovó, com suas pétalas brancas a clarear um jardim tão simples, mas ao mesmo tempo tão carinhosamente cuidado. Nessa viagem atemporal, pude até sentir o aroma, e ainda sinto. Penso que não é Ã toa que naquela casa, onde vivi na infància inúmeras e gostosas manhãs de domingo, existe atualmente uma floricultura. Não é por acaso, não é vovó?
O chakra cardíaco se expande e meu corpo se aquece quando penso nisso, pois me traz a certeza de um amor que tanto me protege nessa jornada.
Fico aqui imaginando seu jardim agora, vovó. Deve ser lindo. Mamãe, com certeza está a seu lado, afinal, ela gostava tanto de flores. Eu nunca tive o hábito de cultivar flores como vocês nos sentido mais concreto do termo, mas sempre cultivei flores de um outro jeito, ou melhor dizendo, em outras dimensões. E nisso vocês me ajudaram, não é mesmo? Tenho certeza.
E é assim, me sentindo aquecida nesse amor, que posso abrir a janela e deixar o sol entrar a qualquer momento, onde quer que eu esteja, pois sei, as margaridas brancas estão lá fora no jardim. E é só por isso que o sol vai entrar.
Essa àncora sagrada me faz querer celebrar a vida que nasce e renasce nesse início de primavera que já se anuncia, trazendo a certeza que esse dia sempre chega. Aliás, a primavera não cansa de chegar. Posso ouvir o barulho das sementes a brotar da terra. Posso sentir o perfume das flores, mas principalmente das margaridas brancas.
Sinto intensamente que inúmeras primaveras estão por vir, inúmeras e incansáveis vezes, principalmente porque acredito num sol que brilhará eternamente.
Que gostoso saber que a primavera sempre virá. É um misto de euforia e alegria, como provavelmente o que sente Deméter (A Mãe Terra)ao ter novamente sua filha Core (O grão de trigo), agora chamada Perséfone (a guardiã dos mistérios das sombras)em seus braços, permitindo que seus passos venham a fertilizar novamente os campos ressecados, devolvendo a vida em toda sua expressão.
E é assim, feliz, agradecida e celebrando a vida nessa manhã de domingo que compartilho a certeza de que sempre é possível ter um amor que nos conceda noites com sol. |
