(...) ver Deus em tudo, e imaginar que nos átomos desta mesa aqui em frente há
Brahman, e que entre eu e ela só ha um imenso vazio... Imagino a
realidade material se desmanchando diante de meus olhos, e Deus
presente em tudo. Olho para as pessoas na rua, e me comadeço delas -
e de mim mesmo - ao notarmos que estamos quase todos dormindo. E que
se hoje eu vejo isto e ontem eu não via, eu era um zumbi igual a elas.
Sei que meu pensamento passa por atomos do cérebro que no fundo são
apenas grandes vazios, órbitas gigantescas em torno de um nucleo. E
que o ar que me separa do exterior é o mesmo vazio vibrante
manifestado. Dou risada da ilusão das coisas materiais, e ao mesmo
tempo me vejo nelas.
Compreendo Ramakrishna dizendo que a unica utilidade de ser Deus e
criar é poder viver como criatura. Deixo de entender o açucar, deixo
de fabricar o açucar, deixo de querer me fundir com o açucar, e
simplesmente me permito sentir o sabor doce do açucar.
Vejo Deus em tudo, e no firmamento - e por estar em tudo, acabo
achando mais perto buscá-lo dentro de meu próprio coração. (...)