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Contos-->ESQUECER NUNCA, PERDOAR JAMAIS- A LUZ -- 25/10/2004 - 08:02 (ADÃO JORGE DOS SANTOS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESQUECER NUNCA, PERDOAR JAMAIS. A luz

Uma luz tênue balançava na minha frente. Parecia a luz bruxuleante de uma vela, mas se forçasse a vista, ela permanecia por um tempo estática, não toda, mas uma parte dela. Era um brilho que não ofuscava os olhos, eu podia olhar diretamente para o seu interior. Interior sim. Não sei explicar como, mas sabia que tinha uma parte que era dentro, um lugar, um caminho, era com certeza alguma coisa concreta que podia sentir e que só tinha que caminhar ate ela e tudo acabaria ou começaria, dependendo da crença de cada um. Queria me mover, então percebi que estava deitado e que a luz pairava acima de mim. Aquilo era novidade. A luz estava próxima ao teto ou fazia parte dele, não tinha bem certeza da sua posição. A primeira coisa que me veio a mente era de que estava morrendo e que aquela era a luz de Deus, a passagem que conduzia ao céu. Não estava morto. Não podia estar. Com certeza morto não estava mesmo. Sentia dores por todo o corpo. Não conseguia precisar qual parte de meu corpo doía mais. De repente senti medo de que a luz caísse em cima de mim e me envolvesse completamente. Mas como sairia dali. Aquela luz pairando sobre meu corpo inerte, os pensamentos dispersos na minha cabeça tateavam possíveis respostas para a questão da luz misteriosa. Havia um cem números de explicações para aquela luz estar ali, eu necessitava encontrar apenas uma para não entrar em parafuso.
Tentei mover o braço, mas ele não respondeu. Nenhum outro membro atendeu aos meus apelos cerebrais. Estaria paralisado, ou pior; tetraplégico. Alguma coisa deve ter acontecido para que estivesse naquela situação desesperadora. Será que sofri algum acidente que não lembro? Não. Acho que não. Será que não estou sonhando. É pensando bem, um sonho ate poderia explicar esta situação maluca. Bom se isto era um sonho não deveria sentir dores no corpo. Portanto não estava sonhando. Aquela luz estava ali mesmo esperando sei lá o que. E se ficasse ali pára sempre e se eu também permanecesse imóvel, o certo era que tudo ficaria suspenso no tempo a espera de alguma reação. Eu não podia me mexer, e a luz parece que ia ficar ali suspensa eternamente. O que fazer? Tentei olhar em volta para descobrir onde estava. Era inútil. Não conseguia virar a cabeça para lado nenhum. Parecia que tudo girava a minha volta. Meus olhos ardiam, queria esfregá-los e não conseguia. Resolvi fechar os olhos para ver se a luz sumia. Que nada, lá estava ela no alto. Percebi que estava mais perto agora. Podia Ver a lâmpada suspensa no teto pelo fio que a prendia acima da luz. Se a luz estava suspensa entre o teto e eu, então ela possuía um corpo, uma essência, sem duvida havia alguma coisa ali. Não percebi quando havia se movido. Talvez por estar atento ao fenômeno, não notei seu avanço. O fato era que a luz estava descendo sobre mim e eu nada podia fazer para detê-la. Notei que os dígitos do relógio não se moviam. Havia um rádio relógio no alto da mesa que podia ver com o canto do olho, e o tempo estava parado. Totalmente parado. Aquilo me assustou. Realmente, constatei que os segundos não se moviam, alias para meu espanto, nada se movia ao meu redor. Exteriormente a inércia dominava. Interiormente somente meus pensamentos tinham vida própria, poderia queimar meu cérebro de tanto pensar. Procurei escutar as batidas do meu coração para me certificar de ao menos estava vivo. Nada. E nem sequer respirava. Tentei em um momento buscar o ar, mas foi em vão. Eu não respirava. Apenas vivia naquele limbo esquisito ser ter noção do porque.
Não sei quando resolvi desistir de questionar o que me acontecia. Simplesmente fechei os olhos e esperei. Não demorou muito senti um tremor por todo o corpo. Nem fiz questão de abrir os olhos. Poderia dar de cara com algum ser místico, um anjo talvez, ou mesmo o próprio criador em pessoa. Ma não foi isto que aconteceu. Não apareceu anjo algum, nem Deus quis saber de mim. Quando resolvi abrir os olhos a luz já não estava ali. Senti uma paz momentânea e pude enfim respirar tranqüilamente. Movimentava meu corpo com facilidade, tudo parecia normal, ate perceber que não estava no mesmo lugar de antes.

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