O TEMPO
I
Como o tempo é implacável,
Realista e insolente!
Nunca pára nem atrasa,
Anda sempre para frente;
Deixa tudo para trás
E não volta nunca mais
Ao que era antigamente.
II
Ele vai levando a gente,
Não espera um só momento.
Dessa pressa descabida
Não tem um ressentimento.
Todo instante se renova,
E nos deixa, como alcova,
Nosso envelhecimento.
III
Em algum dado momento,
Vejo-me na mocidade,
Mas passando a ilusão
Caio na realidade:
– Vejo o tempo caminhando
E, sem dó, me arrastando
Para a senilidade.
IV
Corre o tempo, e a saudade
Faz presente o que é passado,
Mas a gente não consegue
Reviver esse legado
Porque há um contratempo:
Somos, nós, reféns dum tempo
Que não dá passo voltado.
V
No meu tempo já passado,
Tive tempo pra nascer.
Desde então segui o tempo
Para meu tempo viver.
Mesmo o tempo me arrastando,
Minha vida vou gozando
Sem ter tempo pra morrer.
- fim -
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