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Contos-->O COLARINHO BRANCO DO JARBAS -- 28/10/2004 - 14:28 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O COLARINHO BRANCO DO JARBAS



Fernando Zocca



Jarbas, o caquético-testudo, com aquele seu bigode de estrupício, todo cheio de si por ter sido eleito prefeito dos Tupinambiquences, adentrou à sala maior do setor de comunicação social da prefeitura, naquela manhã do primeiro dia útil, depois da posse, e com ares de quem pode muito, pediu calma aos jornalistas que se aglomeravam, para a primeira entrevista coletiva.
Depois dos cumprimentos iniciais postou-se de forma que os representantes da imprensa pudessem iniciar os trabalhos. O primeiro a perguntar foi uma jovem, que assim, na bucha logo mandou:
- Seu Jarbas há verdade na afirmativa que informa ter havido desvios de R$45.000,00 (quarenta e cinco mil reais) do CDHUU, causados por sua pessoa?
Jarbas, lívido, limpou a garganta e respondeu:
- Olha, veja bem... esse pessoal da oposição só fala besteiras. Olhe meus cabelos brancos. Tá vendo aqui ó, - apontou um chumaço bem em cima do cocuruto - isso é o que eu ganhei nessa campanha. Minha luta não foi só disseminar meu programa de governo. Tive muito trabalho pra mostrar que não sou esse ladrão assim... tão perverso do jeito que eles dizem que eu seja.
O repórter do Jornal Tupinambiquence, magro e com a voz trêmula levantou a mão, seu modo tímido lembrava o garotinho desejoso de ser ouvido pela professora. Ele pediu a palavra. Quando o Jarbas assentiu, ele perguntou:
- Mas e a história do "Extremamente Fácil"... o senhor deve se lembrar... aquelas máquinas, semelhantes às caixas eletrônicas dos bancos, instaladas nas farmácias, onde a população pagaria suas contas de água. Não houve mesmo super faturamento? Dizem ter sido a licitação viciada. O que o senhor fala sobre isso?
Jarbas, não se abalou. Esfregou as mãos, como se demonstrasse enfado por tamanha impertinência e mandou:
- Olha, veja bem... Tupinambica das Linhas tem problemas muito mais sérios do que essas questões de somenos importância. Eu acho que tudo isso já foi devidamente resolvido Mesmo porque, se o povo que me elegeu, tivesse acreditado nisso, com certeza, não teria votado em mim. Se o eleitor acreditou, mas mesmo assim me agraciou com seu voto, então isso não significa que ele teria feito o mesmo, se estivesse no meu lugar. Mas não é por ai. Essa questão já não preocupa mais. O doutor Van Grogue, hoje presidente do nosso partido, prefeito naquela época, já resolveu essa pinimba toda no judiciário.
- Seu Jarbas, hoje existe o museu da água. O senhor pretende criar o museu do ar? Em caso afirmativo, a terra também não mereceria o mesmo destaque? - A voz grave do perguntador produziu certo frisson nos presentes. Jarbas, o testudo, pescoço curto de careca brilhosa respondeu:
- Olha, veja bem... Todos os elementos da natureza merecem preservação. Longe de mim a exclusão! Não digo que somente a água possa ser nossa homenageada. Isso deve ser feito com o ar, a terra, o fogo e, veja bem... até a força da gravidade deverá ter um local onde possa ser admirada. Seus efeitos sobre a nossa raça devem ser reverenciados. Afinal, meus amigos, nós de Tupinambica das Linhas, ao contrário do que pintam esses desprezadores por ai, nós não somos pouca porcaria, não! Nós devemos manter isso tudo que existe.
A moça que fizera a primeira pergunta voltou ao microfone e perguntou:
- Seu Jarbas, é verdade que o senhor vai revogar as leis antigas, inclusive a da gravidade? É mesmo sério o assunto propagado sobre a abolição de todas as subidas da cidade, deixando só as descidas?
- Olha, veja bem... eu não tenho tanta pretensão assim. Na verdade meu desejo é facilitar ao máximo a vida do povo Tupinambiquence. Se houver uma tecnologia nova que venha de encontro aos anseios do povo, no sentido de minimizar os efeitos deletérios dessas subidas imensas, eu claro, obtendo o apoio da câmara dos vereadores, providenciarei imediatamente. - Jarbas tirou um lenço branco do bolso traseiro e limpou a careca reluzente. Ingeriu um gole de água e apontou para outro entrevistador, estimulando-o a falar. O repórter indagou:
- E essa guerra toda com a seita maligna do pavão-louco. O senhor vai desmontar a quadrilha? - Jarbas, sereno respondeu:
-Olha, veja... meu interesse é que haja mais segurança nas caixas d água, mais segurança aos andarilhos das estradas. Que aqueles que possam dar carona aos caminhantes não corram tanto com suas caminhonetes, colocando em risco a vida dos defenestrados. Mas que os excluídos e indesejados da comunidade possam ter voz e, antes mesmo de serem condenados à morte, que tenham, pelo menos, o direito à resposta. Que possam defender-se dos crimes supostamente a eles atribuídos pelos assassinos.
- E os cães? Eles ainda continuarão com os latidos livres? Isto é, eles poderão latir assim durante horas, dias, semanas, meses inteiros sem nenhuma penalidade contra o proprietário? - A moça fora bem enfática na sua questão.
- Não vejo por que impedir a manifestação do pensamento, das emoções; mesmo que sejam de cães pequenos e feios. Afinal, todos são iguais perante a lei. - Nessa altura dos acontecimentos sua careca suava tanto que as gotículas afloravam no alto da testa expandida e rolavam até o bigode preto. A gravata apertava-lhe o pescoço causando-lhe muito desconforto. Foi por isso que assim, sem mais nem menos, achou por bem encerrar a entrevista, dando por finalizado o primeiro, dos inúmeros encontros que teria com os jornalistas durante todo aquele seu primeiro mandato.


Leia também da série Finalmente Tupinambicas se Ferrou: TARJAS FÚNEBRES, TARJAS FÚNEBRES II, A PACHEQUICE e JARBAS, O NÓ CEGO. Breve: MORTE NO ARAGUAIA.
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