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cronicas-->Perdido na Metrópole (35) O Terceiro neurónio -- 01/10/2003 - 09:59 (Silvio Alvarez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Desde criancinha mamãe me ensinou que deveria ser bonzinho para com os outros. Só que minha mamãe querida esqueceu de ensinar aos outros a serem bonzinhos comigo! Ninguém me entende! Sou um incompreendido, um perdido na metrópole desprezado pelo mundo. Que judiação!

O parágrafo acima ficou tão convincente que até eu estou com pena de mim! Judiação nada! Preciso criar vergonha na cara! O problema é que sempre parto do pressuposto que as pessoas devem pensar como eu, seguir a mesma linha de raciocínio. Aí o bicho pega. Impossível! Aprendi (com lousa e tudo) que a vida não é um mar de rosas, que devo procurar estar bem, respeitar os demais e, em certos momentos (muitos por sinal), mandar os inconvenientes catar coquinhos. Questão de sobrevivência! Pode parecer incrível. Mas até pouco tempo atrás, achava que deveria agradar a todos da face da Terra, sempre. Tentei por 35 anos. Entenderam por que fiquei maluco?

Querem um exemplo?
Sou daqueles que, ao chegar a uma loja de roupas, acabo levando o que não gostei e gastando mais do que devia, por dó da atenciosa vendedora. Coitada! Penso eu, baseado nos sábios ensinamentos de mamãe. Ela desdobrou tantas camisas. Subiu naquela escada tão alta correndo risco de vida. Não posso sair dali sem levar nada. Nestes momentos, meus parcos neurónios não analisam o fato de que não pedi para que a infeliz desmontasse a loja. Pedi uma simples camisa, não o estoque todo. Mamãe não poderia imaginar que desenvolveriam técnicas de marketing para enganar bonzinhos treinados. Pois é!

Hoje tudo está muito individualizado e impessoal. Um sarro!

- Boa tarde! Sou o silvioalvarez, tudo junto com z!
- Olá! Sou marcia.proença, sem acento e sem cedilha.

As arrobas e os provedores viraram sobrenome. Estamos na Era "Tó nem aí!". Voltei à metrópole há dois anos e já conheci e perdi contato com milhares de pessoas. No começo estranhei. Agora? Não mais.

As pessoas não namoram mais! Ficam! Eu já fiquei também. Sozinho! A outra pessoa foi embora.

Minha força motriz no momento é o retorno que tenho recebido de meus leitores. A mocinha da cidade de Socorro - SP pediu uma foto minha por e-mail. Quando a foto chegou a população inteira deve ter gritado o nome da localidade! O leitor de Laranjeiras do Sul - PR insistiu para que eu continue a escrever estas bobagens semanais. Amo meus leitores, razão da minha existência. E sou um grande puxa-saco!

Gostaria muito de ser mais desencanado com os fatos da vida como certas pessoas. Enquanto alguns enfrentam seus problemas como que desfilando na Marquês de Sapucaí, digerindo as adversidades em dez, quinze minutos, fico ruminando, empacado como um asno em subida de ladeira. Encafifo, encuco, perco o sono, crio uma celeuma enorme, às vezes por nada. Em contrapartida, já desprezei assuntos de relevància por mero descuido. Vai entender o ser humano! Êta bichinho difícil.

Meu maior problema é a consciência! Quem inventou a consciência não tinha consciência do que iria causar a nós mortais. Compreendo sua importància, mas de vez em quando enche o saco. É igualzinho ao desenho do Pateta! O anjinho e o diabinho, sobre os nossos ombros, antagónicos, constantemente dando palpites.

Anjinho: - Não faça isto que você irá se arrepender!
Diabinho: - Faça! Faça! Não escute esta besta de asas!

Assim qualquer um entra em colapso mental. Questões morais à parte, para solucionar este problema, como os meus dois neurónios não estavam dando conta do recado existencial, criei, finalmente...O...Terceiro neurónio. Democratizei meu cérebro. Ele é o voto de Minerva. Radical extremado. Minha Heloísa Helena particular. Chega esculhambando com tudo sem papas na língua. Põe ordem na casa-cachola! Faz funcionar na porrada!

Como que vocês acham que um sujeito mimado como eu, que entra em crise de consciência por ter pisado em formiga, que chora com comerciais de Natal das Casas Bahia, tem conseguido superar as adversidades comuns a todos os mortais? Com o terceiro neurónio. Ele é demais! Ponta firme.

Outro dia, amuado em minha cama, lamuriando com os botões do meu pijama a respeito do leite derramado pela colisão de cinco meteoritos na galáxia do Zimbábue por influência do efeito "estafa", o terceiro neurónio imponente bradou...

- Ó sua ameba paranóica. Energúmeno parvo! Será que você já parou para pensar que não é o único do mundo que tem problemas? Será que você é tão egoísta e fraco a ponto de não pensar em mais nada e em mais ninguém além de ti, nem ao menos naqueles que vão com a tua cara, que te consideram e que te suportam com carinho e admiração? Vai ficar aí remoendo o passado, repensando mil vezes o que está mais do que careca de saber? Leia um livro, pinte um quadro, plante uma árvore... Faça qualquer coisa, mas saia desta posição de fóssil inútil. O arqueólogo que irá te descobrir é você mesmo, bobão. Vai jogar fora tudo o que construiu por que seu pirulito caiu na areia? Pensou que pode lavá-lo por acaso? Sua anta!

Levantei! Caí na real, pela milésima vez em minha vida. Lavei o pirulito. Cortei o limão, espremi, adocei, gelei e estou tomando minha limonada.

Estão servidos?

Silvio Alvarez é assessor de imprensa da banda rock pop YSLAUSS, artista plástico de colagem e colunista. silvioalvarez@terra.com.br
Ilustração - Bruno César: brunoartes@uol.com.br
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