TODA OITICICA TEM
UM ASSOMBRO PERTO DELA.
I
No folclore do sertão,
Oiticica que é frondosa
Faz a gente mais medrosa
Ou até um valentão
Ficar vendo assombração
Ocorrendo sob ela,
E dizer que o que vê nela
É marmota do além.
TODA OITICICA TEM
UM ASSOMBRO PERTO DELA.
II
O cavalo, assombrado,
Dá um pulo e você cai.
Lá de dentro alguém diz: "ai",
E lhe deixa arrepiado.
E um vento afunilado
Sopra em busca da cancela,
Faz mexer a taramela,
Espantando um vem-vem.
TODA OITICICA TEM
UM ASSOMBRO PERTO DELA.
III
Também dizem que acontece
Assobio de caipora,
Vela acesa a toda hora,
E que alma aparece.
Ouvem Choro, riso e prece,
E rangido de janela.
Também vêem sob ela
O cadáver de alguém.
TODA OITICICA TEM
UM ASSOMBRO PERTO DELA.
IV
Com meu pai, vinha da feira,
Bem montado num cavalo
Quando ouvi um forte estalo
Vindo lá da ribanceira.
Vendo um vulto na carreira,
Quase que caio da sela.
– Que mumuca era aquela?
Meu pai disse: "diz alguém":
TODA OITICICA TEM
UM ASSOMBRO PERTO DELA.
V
Noutro dia, num baixio,
Eu andava a cavalo
Quando ouvi um outro estalo
Que saiu lá do sombrio.
Foi tamanho o arrepio
Que meu corpo quase gela.
Além disso, minha sela
Virou frauda de neném.
TODA OITICICA TEM
UM ASSOMBRO PERTO DELA.
VI
Toda luz tem claridade,
Toda casa tem telhado,
Todo homem tem pecado,
Todo ódio tem maldade.
Todo bem tem caridade,
Toda cerca tem cancela,
Toda urbe tem favela,
Toda reza tem amém.
TODA OITICICA TEM
UM ASSOMBRO PERTO DELA.
- fim -
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