Parece que estou a ver o Vasco Santa, nédio de rebentar o colete, fralda da camisa por fora das anafadas calças, de voz pastosa e embriagado com um quartilho de explosivo tintol ainda dentro da garrafa, defronte ao candeeiro público, abanando, oscilando, cambaleando e exprimido-se em apetitoso monólogo para os deuses...
- Ei pazinho... Puxa mais luz... Oh paizinho dos temulentos, rabi das nocturmas asas, inspira-me, atira-me para o céu das rosas... - Estás ouvir-me ou não estás?!... Caraças... Sonhar é fácil e não é... Nào é... Não !...
É e não é... Mas afinal e definitivamente... Imaginar é tão bonito, voar por dentro de nós, untar de bàlsamo espiritual a solidão do íntimo, suavizar o cálculo sobre as coisinhas todas que constituem o todo sempre mais além, estar-se nas tintas para o dono da tinta...
Imaginar... É ser-se anjo asado
De corpo pela alma elevado
Além de quanto a vista alcança...
Imaginar... Não tem dimensão
Não tem barreiras... E por cada "não"
Tem infinito um "sim" renovado!
António Torre da Guia |