LAMÚRIA INFLACIONÁRIA
I
Arre! Ufa! Que sufoco!
Você vive "pendurado",
O que compra é fiado
E ainda pede o troco.
O seu cheque dá "pipoco".
Ta perdendo o requinte,
Esperando o mês seguinte,
Porque, neste, seus proventos
Não saldaram os pagamentos
Que datou pro ”DIA VlNTE".
II
Mas no mês que tem aumento,
Você ri e diz assim:
– “Ó meu Deus, até que enfim,
Vou sair desse tormento.
Vou saldar meus pagamentos;
Não vou mais comprar fiado;
Vou ser mais equilibrado,
Vou botar os pés no chão,
Pois aquela situação
Já é coisa do passado”.
III
Desse dia em diante,
Você se acomodou.
No passado não pensou,
E ficou meio arrogante.
Alguns meses, mais adiante,
Foi aos poucos descobrindo
Que a grana ia sumindo
Então, viu-se acordado,
Pois a coisa do passado,
Ia, aos poucos, ressurgindo.
IV
Gritou: – Opa, to lascado!
Vou, de novo, "pendurar".
Novamente vou voltar
A pedir troco em fiado.
Para o cheque "pipocado",
Ao gerente, vai pedinte:
– Posso vir no mês seguinte?
E, com saldos devedores,
Vai dizer a meus credores:
– Só lhes pago ”DIA VINTE".
V
Esse é um empregado
Que trabalha num país
Dum sistema infeliz,
Corrompido e inflacionado.
O produto é aumentado,
Quase sempre à revelia,
Toda hora, todo dia.
Mas aumento de salário,
Pra quem é funcionário,
Quando tem, é mixaria.
- Fim -
|