ESTA VIDA É RUIM,
MESMO ASSIM EU GOSTO DELA.
I
Um colega, aposentado,
Hoje, cedo, me ligou,
Sem delongas me falou:
– Ô Tarcísio, seu danado,
Quero ver versificado
Esse mote que Estela
E também os primos dela
Enviaram para mim:
ESTA VIDA É RUIM,
MESMO ASSIM EU GOSTO DELA.
II
Respondi, então: – De novo
Você mexe com meu brio!
Vou topar seu desafio,
Atendendo a seu povo:
– Meu pirão vai ser de ovo,
Mão de vaca ou costela.
Minha luz agora é vela;
Meu transporte, um patim.
ESTA VIDA É RUIM,
MESMO ASSIM EU GOSTO DELA.
III
Eu resumo minha feira
Num punhado de feijão,
Rapadura, sal e pão,
Peixe seco na fieira.
Ponho carne de terceira,
E pedaços de costela;
Junto tudo na panela
Com um pouco de aipim.
ESTA VIDA É RUIM,
MESMO ASSIM EU GOSTO DELA.
IV
Com a idade que eu tenho
Não dá mais pra fazer nada,
Não arranjo namorada,
Pois me falta desempenho.
Sem usar o meu “engenho”,
Não consigo uma donzela
Pra içar a minha “vela”
Que, parece, está chinfrim.
ESTA VIDA É RUIM,
MESMO ASSIM EU GOSTO DELA.
V
Eu trabalho todo dia.
Faço muito sacrifício,
Pois a vida é difícil,
Vivo em grande correria.
Faço muita estripulia,
Até rezo na capela
Pra fugir da esparrela
Que parece não ter fim.
ESTA VIDA É RUIM,
MESMO ASSIM, EU GOSTO DELA.
VI
Quem quiser que a deteste,
Pois eu mesmo a acho boa;
Se alguém, da vida, enjoa,
É que nela não investe.
Ó, meu Deus, tu que me deste
Uma vida sã e bela,
Seu perdão, se falo dela
Neste mote dado a mim.
ESTA VIDA É RUIM,
MESMO ASSIM EU GOSTO DELA.
- Fim -
|