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Poesias-->EU NÃO QUERO NASCER -- 16/10/2005 - 15:24 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




EU NÃO QUERO NASCER



Poema de Antonio Miranda



Para Patrícia L. Boero*




1

Não, eu não quero, não quero expor-me:

serei o número 1387328349362217

no mundo, como um excêntrico

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

condenado à morte no nascedouro.



2

Antes, como um peixe de cabeça para baixo

(um feixe de células em expansão) protegido

ouvindo sons exotéricos inteligíveis

de desordem e desintegração.



3

Nãoeunãoqueronascer

outrosquevivampormim

oprivilégiodemorrer

indistintamentecintilando

como um estertor.Nãoenão!



4

Nasceriam comigo facínoras, eruditos

famélicos e santos.;

morreriam comigo inocentes, cínicos,

crentes e alienados

no ciclo intermitente.



5

Bilhões de entes totalmente diferentes

da matriz, em mutações constantes

imprecisas

interligados mas sem conexão

anulando-se, destruindo-se.



Não me venham com esse papo de DNA!



Mais valem as semelhanças do que as diferenças?



6

Para eu ocupar espaço

alguém fenecerá

se não, multiplicando-nos descontroladamente

voltaremos à antropofagia

como forma de sobrevivência!



7

Já comemos pêssegos europeus

adubados com DNA

de seus mortos menos ilustres

- estranha forma de interdependência.



8

Não serei bem-vindo ao mundo!



9

Nos complexos multidimensionais

de casualidades não-lineares

rizomáticas – gostaram do raciocínio

complexo?! –

nascer é sempre um risco permanente

de desastres.



Nascer é a certeza de distúrbios ecológicos.

Nascer é antecipação de violência e dor.



10

Destruiremos todas as reservas naturais

devoraremos todos os recursos renováveis

e extinguiremos, em pouco tempo

todos os recursos não-renováveis do planeta

e experimentaremos explodir estrelas

e explorar o universo.



Nossas asas de borboletas provocarão

devastações com tsunamis anunciados.



11

Que um novo Herodes mande lacrar úteros férteis

ceifar cabeça durante o parto indesejado

ou, antes, promover abortos

ou valer-se de métodos anticoncepcionais.



Para que os pais não nos entreguem ao holocausto

e o país não nos escravize com impostos.



12

É certo que nascem gênios e super-dotados

mas também são gênios e super-dotados

os delinqüentes e os ditadores.

Basta com os que já temos!!



13

Quero manter o cordão umbilical

ao tecido materno, à teia, à rede

sem ir nunca à luz e ao mercado

ao paradoxo do devir (in)flexível.



14

Que propósito?! Que sentido?!

Eu não sinto, eu pressinto,

no fluído ou fluxo em que vivo,

os desvios, os desvarios incontornáveis.



15

O labirinto sem saída possível

ou sem continuidade

senão pela suspensão da vida

por acidente ou livre-arbítrio.



16

Não se sabe de onde nem para onde

conduz o imponderável

numa seqüência arbitrária, refratária

na promiscuidade das relações fortuitas

alheias a qualquer destino ou missão

escapando de estruturas arborescentes

de genealogias controladas, impostas.



17

Fugindo das relações caóticas e espontâneas

das leis da convivência humana

(manter-se no útero-centro gravitacional)

de toda e qualquer contigüidade

de quem pensa com o estômago.



18

Evitar a diáspora que segue o nascimento.



19

Daí não ser possível a troca de experiência

entre não-iguais, que se eliminam

(pela dissonância cognitiva)

formando conjuntos que se dissolvem

e se reagrupam aleatoriamente

nas muitas lógicas irreconciliáveis.



20

Não, eu não quero nascer!!!

Enfrentar as associações extemporâneas

(referências cruzadas, hiperlinks fortuitos)

na rede semiótica do interpretante

- atônito, diante da terrível Esfinge

que finge e se apresenta como Oráculo.





*comemorativo da visita de Patrícia L. Boero, diretora de revista eletrônica Zona Moebius ( http://www.zonamoebius.com ) a Brasília, de 18 a 24 de outubro de 2005.

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