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Contos-->TRÊS CONTOS: Conto contigo; um conto de réis; conto até dez -- 07/11/2004 - 15:32 (Antonius) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CONTO CONTIGO

Não era nem dez da noite. O guarda em sua moto (uma cegezinha fulera) apitava forte; o incomodo silvo, provavelmente não era tanto para afugentar algum inconseqüente, mas, mais para se mostrar presente e fazer jus aos honorários.
E mais um tinir. Por tão absorto aos movimentos da rua, pelo guarda que insiste em passar em frente ao meu portão, quase caí da cadeira quando o telefone tocou. Por um instante pensei que o guarda trafegava por minha sala.
Com minha alma voltando da rua pelo susto, fui atender o estridente telefone: onde abaixo o volume desta campainha, caramba?
Atendi. Do outro lado, ela: Paula. – “Oi, Antonius!”.
Aquela voz doce a chamar por mim; reconheci fácil, mesmo ela tentando disfarçar o timbre, tentando se passar por Denise.
Vez por outra ela tem destas, de querer me pegar na mentira. Pobre menina. Amo tanto aquela voz e tudo que ela representa, que a reconheceria, mesmo se eu estivesse no Morumbi em dia de final.
- Oi, Paula!
- Ah, me descobriu de novo! Mas, ainda te pego um dia.
- Impossível!
Nosso diálogo prosseguiu por mais de trinta minutos. Ao menos para mim, o guarda não passou mais pela rua. Àquela hora estava absorto em outro mundo.
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UM CONTO DE RÉIS

Ainda moço, nos longínquos idos de trinta, o Vicente (Centinho, desde bebê), caboclo esperto, bão de prosa (como se dizia na época; assim contou meu pai) resolveu vender a Bandolera, uma vaquinha muito boa de leite, diziam a melhor da região.
Não faltaram interessados na vaca da Dona Luzia (a verdadeira dona, consorte do Seu Centinho). Entres estes estava o Coroné Migué, o maior fazendeiro local, que foi até às terras dos donos da primorosa.
- Dia, Coroné!
- Dia, Seu Centinho!
- Que bãos vento troche o coroné pra minha umirde terra?
- Tô sabeno que o senhor qué vendê a vaca da Dona Luzia. É verdade?
- É sim, coroné.
- Quanto o amigo qué pela Bordadera?
- BORDADERA!? O coroné RESPEITE minha muié.
- Discurpa home, mas num tô falano na sua muié. Tô falano na vaca da sua muié. Ela num chama Bordadera?
- NÃO! O coroné é home valente, sei disso, mais eu num vô dechá o senhô falá mar de minha Luzia! Minha Luzia bordadera!
- Discurpa, Seu Centinho, ma ...
- NUM CARECE SE DISCURPÁ! É mió o coroné issimbora de minha terra. Num vendo minha Bandolera pro coroné, nem por todo dinhero do mundo.
- Discurpa, home. Foi um mar intendido. Pensei que a vaca chamasse Bordadera.
- O CORONÉ TÁ DE BRINCADEIRA COMIGO?
- NUM TÔ NÃO, HOME! SÔ HOME DE RESPEITO E O SR. DEVE SABÊ DISSO!
- Discurpa coroné, mais ...
- MAIS O QUÊ?
- Vamô mudá o rumo dessa prosa coroné!
- É mió memo, Seu Centinho.
- Mais ..., memo assim não tem negócio com o coroné.
- PRA NUM FICÁ DÚVIDA DÔ UM CONTO NA BANDOLERA!
- Bheinn! Nesse caso que o coroné tá mostrano que é home de horna, eu num posso dechá de dá valô pra isso; eu vendo!
Fez-se o negócio. O coronel, feliz da vida, levou a Bandolera para a Fazenda Monte Verde.
O Seu Centinho pegou o dinheiro e correu para casa. Tinha de falar com a mulher; e era urgente.
- LUZIA! LUZIA! LUZIA!
- Mais o que tá aconteceno homê pro cê ficá nesse berrero todo?
- Muié, vai logo pra casa da sua mãe pra aprendê bordá!

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CONTO ATÉ DEZ

Que dia lindo! Mais um daqueles em que o sol vai fazer fritar ovo no asfalto.
Abri o portão para tirar o carro para mais um dia de luta no RH; não me contive: olhei para o céu azul, não havia uma única nuvem. Respirei fundo a brisa morna da manhã.
Quando ia pegar o carro passou por mim um vizinho. Falei bom dia; e falei transbordado toda a minha felicidade inspirada pelo dia radiante.
A resposta foi o silêncio e a cara fechada. Parecia que uma nuvem pairava sobre a cabeça daquele homem; acho que a nuvem passou para minha cabeça também. Até no céu apareceu uma nuvem.
Peguei o carro e me fui.
Esqueci, havia perdido parte do encanto, mas esqueci; ao menos tentei esquecer.
Segui meu itinerário normal, o qual nunca tinha problemas, nunca havia congestionamento. Mas, um acidente no começo da manhã complicou tudo. Normalmente levo dez minutos para chegar ao estacionamento onde deixo o carro. Naquele dia foi quase quarenta minutos de anda, pára, anda, pára. Como não sou dado a atrasos não teria problemas para me justificar, até porque, não era o único preso no congestionamento, porém, acho que era o único que vira a beleza do dia, pois as buzinas e os roncos dos motores, as pragas e os gritos eram generalizados. Creio que havia uma nuvem para cada carro, para cada pessoa.
Naquele tumulto, ganhei mais uma “nuvenzinha”. Olhei novamente para o alto e as nuvens já se avolumavam. Pensei: o tempo está mudando rápido.
Apesar de tudo cheguei ao trabalho são e salvo.
Mal entrei na sala, dei de cara com um diretor, procurando por um antiácido; uma nuvem enorme o encobria. Aos berros dirigiu-se a mim: Isto são horas? Parece que todo mundo resolveu chegar atrasado!
- O trânsito está muito ruim hoje – tentei argumentar. Em vão.
A mim e aos outros que iam chegando, o homem tentava descarregar seu ácido, que, creio fervia mais ainda dentro dele.
Fui ao banheiro e olhei-me no espelho. Pareceu-me ter visto uma nuvem enorme a pairar sobre mim.
Tentei esquecer tudo isto. Fui até a janela e olhei para o tempo: como havia mudado!
- Vou me enfiar no trabalho! – Pensei convicto.
Sentei-me ante uma pilha enorme de papéis e queria mesmo me envolver em cada letra, em cada vírgula daquela burocracia. Mas, um colega me liga e diz que quer falar comigo. Enfático diz: tem que ser agora.
Fui até ele. Sentei-me na cadeira que me indicou simpático e pus-me a ouvir.
- O diretor tá levando chifre! E advinha de quem? – Cochichou sarcástico.
Não, eu não sabia. Fiz cara de curioso para não desaponta-lo. Arrependo-me desta minha encenação.
- Do serviçal! Cara! Dá pra acreditar? – E riu irônico.
Não, não dava para acreditar. O tempo havia me surpreendeu de vez, com a chegada da recepcionista, também atrasada.
- Olha pessoal, além de atrasada, toda molhada! – Disse a moça indignada.
É verdade! Havia começado a chover. E pesado.
Nunca me senti tão impotente. Minha cabeça começava a doer; assim como o diretor traído, também precisava de um antiácido.
Voltei ao espelho e notei como eu estava diferente; cenho carregado; olhos fundos; sentia-me em febres.
Deixei o escritório sob a chuva que parecia querer lavar todas as almas e voltei para casa, pois não suportava mais. Queria começar o dia novamente; o que não era possível. Mas teria todos os outros dias para começar e principalmente terminar melhor. E daquele dia em diante nunca mais me deixaria levar pelas tempestades alheias

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