UM MATUTO NA CIDADE
I
Num barzinho da cidadi,
Numa mesa, mim sentei,
Uma moça pra mim vêi
Tôda chêa di mardade.
II
Nóis saímo prum lugá
Onde era mais iscuro,
Incostei ela no muro,
Cumecei a lhi arrochá.
III
Namoramo noite adentro,
Se abraçano e se beijano;
Quando o dia foi chegano
Nóis vortamo lá pra dentro.
IV
E a moça, meio tonta,
rismungô, assim, cumigo:
– “Papai vai mim dá castigo
E acertá cum ocê as conta”.
V
E cum mêdo do pai dela,
Pensei logo im casamento.
Pruveitano o momento,
Priguntei assim pra ela:
VI
– Ô mocinha, qué casá?
Cê se sarva e eu tombém.
Ela diche: – “Tudo bem,
Cum meu pai, cê vai falá”.
VII
Cabrunhado e chinfrim,
Pidi ela im casamento,
Sem ficá nem ciumento
O pai dela diche SIM.
XIII
Resorvemo se casá
Quanto o mais rapidamente
Cunvidamo uns parente
Pra ir lá tistimunhá.
IX
Eu visti um terno branco;
Ela, um vistido rosa.
Eu fui todo ancho e prosa
E ela só mim dano tranco.
X
E na hora das priguntas
Qui o pádi ia fazê,
Nóis dois ia rispundê
Sem dá as risposta juntas.
XI
Rispundia eu primêro,
Rispundia ela dispôs.
Se o SIM fôsse dos dois
Tinha festa o dia intêro.
XII
Mas a festa num se deu,
Pois num ôve casamento.
Eu di SIM im meu momento,
Mas, no dela, um NÃO mim deu.
XIII
A parti dêsse momento,
Todo mundo foi simbora.
Fiquei só, naquela hora,
Rimueno os pensamento.
XIV
Pelo meno seu vigáro
No artá, ficô comigo,
E mim diche: – “Meu amigo,
Esse povo num faláro?
XV
A cabôca qui ocê
Iscuieu pra se casá
Sempre foge do artá
Quando o SIM vai rispundê.
XVI
Ocê sábi o qu’é qui há?
Um arguém mim confessô
Qui a cabôca é um flosô
E cum hómi num se dá”.
XVII
Eu num pude nem falá,
Dispôs do qui o pádi diche.
Pra intendê essa burrice,
Eu fiquei a assuntá:
XVIII
– Nem cum tanto arrochão,
Eu num pude arrepará
Qui eu ia mim casá
Cum um baita SAPATÃO!
XIX
Murmurei: – só na cidadi
Qui inziste sapatão,
Pruqui lá im meu sertão,
As muié são de verdade.
XX
As muié do meu sertão
Só são macho no roçado,
Mas na hora dum fungado
Se dismancham im tesão.
- Fim -
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