O que aconteceu com o Soromenho não foi fácil. Evidentemente, você conhece o Soromenho. É um daqueles caras que conhece Deus e todo mundo. É assim, ó, com todos os importantes. Qualquer coisa, falassem com ele. Diz que conseguia testes na Globo, no SBT, ou, no mínimo, na banheira do Gugu. Foi ele quem soprou para o Sílvio a idéia de colocar no ar a "Casa dos Artistas".
Problemas nos bairros? Deixa comigo, dizia - deixa o Luiz (o prefeito) voltar da Rússia. Em último caso, apelava para o Nando ( o Nando tinha sido colega de exílio, em 64), mas não gostava de incomodar, acabava deixando recado com algum assessor.
Não perdia festas de socialites, badalações na orla marítima, todos gostavam de cercá-lo para ouvir intimidades dos famosos: O Boni só bebe caipirinha de vodca; o Antonio Ermírio detesta caviar. Teve um pega com o Senna por causa de uma olhada da Adriane. Adorava uma boca livre, só evitava aparecer nas colunas sociais; sabe como é, a modéstia era sua maior vaidade. Vivia, em grande parte, de seu prestígio. Eram assessorias, pequenos lucros em transações... seu nome abria todas as portas.
Quando se instalou na cidade uma nova empresa, resolveu reivindicar o cargo de relações públicas, ninguém melhor do que ele para isso. Na entrevista, o diretor confidenciou que estavam com problemas para liberar um maquinário importado. Problemas na alfàndega? Deixa comigo. No ato, passou a mão no telefone do diretor, discou um número e foi direto: Lelinho, aqui é o Soró! Me quebra um galho ( e explicou o assunto). Teve a promessa de que numa semana tudo seria resolvido. Mais algumas ligações e resolveu outros probleminhas da empresa. Era, com certeza, o funcionário ideal.
Surpreso, o diretor falou: você conhece também o diretor da Telesc? Claro que conhecia, eram amigos de pescaria.
-Então me pede pra agilizarem o conserto deste telefone, que está há três dias mudo!
|
