HOMEM DE BRINCO?
(1991)
I
Lá na Escócia, homem veste saia;
Na Arábia, turbantes bem compridos;
No Brasil: “D. Flor com dois maridos”
E homem de fio dental na praia.
Há também marmanjão levando vaia
Por sair de mulher no carnaval.
Essa moda tornou-se natural,
Mas um homem usando um par de brincos
É assim feito porta sem os trincos
Que não fecha a casa a um mal.
II
Meu amigo, não tenho preconceito
Com você – um adepto dessa moda
Porque brinco, a mim, não incomoda,
Só não uso, porque não levo jeito.
Eu estou atendendo a um pleito
De alguém que me fez um desafio
Pra que eu, em cordel, mexesse o brio
De você, já com mais de trinta e cinco,
Que agora está usando brinco
Ao voltar dumas férias lá no Rio.
III
Não condene a mim, pois sou poeta,
E poeta não perde desafios.
Se mexi, dessa forma, com seus brios,
Ofendê-lo não era minha meta.
Sei que foi uma forma incorreta,
Mas não veja em mim um inimigo.
Se duvida, escute o que lhe digo:
– Se você alcançar os cento e cinco
E ainda estiver usando brinco,
Continua, pra mim, um grande amigo!
- Fim -
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