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Artigos-->Vulcão Glauber: 21 anos de descanso. -- 22/08/2002 - 00:26 (Jeyson Reis Barbosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Essa história de que o povo brasileiro tem memória curta é mais uma lenda criada pelas classes dominantes para nos diminuir, para aumentar nosso complexo de inferioridade em relação aos ianques ou europeus. É conversa de enxugar gelo. Vou bater na mesma tecla e afirmar que mais uma vez a culpa é dos meios de comunicação de massa e de nossos sistema educacional. Ambos são capangas das classes dominantes que, na imprensa e nos textos oficiais (dos quais se servem a maioria dos livros de História) destacam essa ou aquela personalidade ou fato da forma que mais os convém. O pior de tudo é que isso vai para as escolas e a nossa garotada nasce, cresce, reproduz e morre sem saber da verdade.



O povo brasileiro tem memória sim! O que ele não tem é a instrução correta, educação libertadora. Se você chegar para uma criança que esteja na quarta série do ensino fundamental e perguntar quem foi Duque de Caxias, ela vai falar que é o patrono do nosso Exército, que defendeu o Brasil na Guerra do Paraguai e tals... se perguntar quem é Tiradentes, ela também vai saber responder. Sobre o Pelé, Ronaldinho... tem moleque que sabe a ficha completa! Tirando o injustiçado Tiradentes (tenho muito respeito pela figura) que espécie de heróis são os outros? Heróis de merda! Duque de Caxias era pau mandado de inglês e participou de um dos maiores genocídios fratricidas já ocorrido nos trópicos, um absurdo. Criaram vários outros heróis, tais como Virgulino Lampião, Deodoro da Fonseca... Heróis de merda! Mas pergunte a esta mesma criança se ela já ouviu falar de Carlos Lamarca, Mariguela, João Cândido, João Amazonas...



Não gosto muito da palavra “herói”, mas seria bom se o povo associasse esta palavra a brasileiros que eram (ou são) realmente brasileiros, que têm uma história de vida marcada por luta, por vontade de mudança, por amor ao seu povo. Temos figuras históricas importantes, tais como o marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, ícone das lutas populares na História moderna do país. Os valentes guerrilheiros do Araguaia, que deram suas vidas por uma causa maior, pela liberdade, contra a ditadura, contra o genocídio econômico e cultural tupyniquim, destacando-se Maurício Grabois, Carlos Lamarca e João Amazonas. Por que não tornar heróis alguns intelectuais que mostraram o grande valor da cultura nacional, tais como Oswald de Andrade, Lima Barreto, Tarsila do Amaral, Di Cavancanti, Darcy Ribeiro, o fantástico músico Heitor Villa-Lobos? O que dizer então de Luiz da Câmara Cascudo, o maior folclorista do Brasil que dedicou sua vida a escrever livros sobre o assunto? Estes quase ninguém conhece.



Existem em nosso meio outras figuras desse mesmo cacife, que passam desapercebidas dos olhos das massas mas que têm também uma grande importância para nosso povo, uma vez que dedicam-se com amor a ele. Na minha comunidade não conheço exemplo melhor e história mais bonita do que a do casal Marcel e Gabriela Crochet. Estes entrarão para o meu livro de História!



Escrevi tudo isso, homenageei todas estas ilustres personagens, para homenagear, em especial destaque, um grande vulcão da cultura brasileira que desde 22 de Agosto de 1981 está inativo: Glauber de Andrade Rocha, nascido em 1939, na cidade de Vitória da Conquista, Bahia.



É impressionante como este grande intelectual não seja sequer citado pelos meios de comunicação de massa como um dos maiores (ou maior) cineasta brasileiro de todos os tempos. Aquela porcaria do Walter Salles, com aquele filminho sem nenhuma profundidade tanto cultural quanto estética que concorreu ao Careca, tem mais fama que Glauber Rocha. Como eu já disse, a TV é quem faz a cabeça. O povo brasileiro não sabe nada sobre o Cinema Novo e nem sobre seu grande teórico.



Não há como falar sobre o Glauber em poucas linhas. Foi sem dúvida um gênio (não gostava desta denominação) que mudou a história do cinema e da sua linguagem. Deveria entrar para os livros de História da Arte Brasileira do século XX. GR era contraditório, enérgico, sarcástico, radical, marxista, cristão, louco, cortante, polêmico, folclórico, pretensioso, incompreendido... Glauber era tanta coisa! Talvez o mais importante a saber seja uma de suas pretensões: dar originalidade para o cinema nacional (isso ele conseguiu), tornar este cinema um instrumento libertador do povo (uma vez que para ele o cinema era a Igreja do século XX) e com ele combater o veneno da indústria de Roliúdi. Aí os críticos imbecis bradam aos quatro cantos que Glauber fazia os filmes para a elite, para um público restrito, o único capaz de entender os filmes de Rocha. Eu acho que nem a elite entendia! Ele fez gozação com tantos figurões! O que pouca gente sabe, é que Glauber recusava-se a fazer filmes pobres, fáceis, divertidos, inertes... ele achava isso um grande desrespeito ao público. Ele queria gerar uma consciência libertadora.



Glauber era tão genial, que aos 9 anos escreveu (em espanhol) e encenou uma peça teatral “El Hijito de Oro”. Aos 21 anos iniciou as filmagens de “Barravento”, contemplado com o prêmio Ópera Prima, no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary, na ex Tchecoslováquia (1962). Vai ficar até chato enumerar todos os prêmios que Glauber arrebatou no curto período em que dirigiu. Tem um curta censurado, o tresloucado e ótimo “Di Cavalcanti”, vencedor do prêmio de melhor curta em Cannes (1977). O ideal é que todos estudassem sua biografia e vissem seus filmes que, infelizmente, são difíceis de serem encontrados.



O livro “Glauber Rocha, esse vulcão”, de João Carlos Teixeira Gomes é uma boa pedida para tentar compreender um pouco mais sobre Glauber. Lembrem-se: para compreender os filmes do gênio é necessário antes conhecer o gênio!



O povo brasileiro e o cinema (nacional e internacional), sem dúvidas, perderam muito com a morte pré-matura deste grande gênio. Sua ausência não deixou de ser um alívio para alguns. Fico imaginando o que o cineasta não estaria aprontando ainda nos dias de hoje. Sem dúvidas estaria esculhambando, denunciando toda a nojeira de Brasília e dos grandes centros de poder. Se com brilhantismo ele driblava a censura, imaginem após a abertura? Não teria imagem de ACM, FHC ou Barbalho que não seria brutalmente arranhada por sua câmera.



Dizia Glauber que “O homem é mais forte que a morte”... talvez ele tenha razão. Depois de 21 anos de ausência, mesmo não muito conhecido pelas massas, suas mensagens ficaram. Uns, com elas se regozijam, outros, incomodam-se... talvez seja por isso que o grande gênio tenha sido condenado ao ostracismo pela TV. É como se estivessem tentando assassinar um morto que ainda incomoda. Viva Glauber!



Geiso

22/08/02

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