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Infanto_Juvenil-->SOL CONTRA TERRA E A CHUVA -- 29/06/2003 - 04:50 (Daniel Igor Dutra Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No alto, o Sol.

No chão, a Terra.

O Sol, do alto, luta contra a Terra, do chão. A Terra, por sua vez, resiste inexoravelmente ao calor e à secura. É A peleja.

Um cão ao longe, de boca aberta, sempre ofegante. Um que sofre as conseqüências da guerra devastadora entre dois gigante. Duas forças poderosas, uma contra a outra, cada qual com sua razão. Cada qual com sua estupidez, não arredam o pé de sua convicção.

Vê-se que a luta é de longa data: tudo em volta morre. O pasto amarelado, como que anêmico. Os animais, esfomeados, alguns literalmente mortos de fome, ou de sede. Não há quem possa suportar tal luta, tal guerra.

O povo clama por Deus, mas até Deus sofre, nem ele pode com a luta do Sol contra a Terra. Disse que eles é quem devem resolver seus problemas.
Fantasmas criados pelo calor dançam sobre o chão. Nenhuma nuvem se arrisca no céu, ficar no fogo cruzado. E segue a batalha.

Teimoso, ingênuo: é o Sol pensando que rachando a Terra esta cederá. Jamais, por anos e anos ela suportou, não será agora que desistirá tão facilmente. A Terra? não é menor sua teimosia: sabe que o Sol, mesmo se indo, nasce novamente no dia que se segue. Mais forte, disposto a lutar por mais um dia.

Vem a Noite, descanso para Sol e Terra. A Noite tenta convencer a Terra a reatar as pazes com o Sol; inútil tentativa. O mesmo faz a Lua com o Sol, mesmo resultado. Só lhes resta rezar para que ninguém sofra muito mais.

Mais um dia vem. Calor, sede, fome. Mais um dia se vai.

À noite, a Lua conspira contra o Sol, com o consentimento de Deus. Armará contra o astro rei, durante o dia.

Vem o dia, acordam o Sol e a Terra, logo cedo dispostos à luta. Ao meio-dia, vem a Lua, que coloca-se bem diante do disco brilhante e quente. Por pouco tempo. O calor lhe quer as costas, insuportavelmente. Logo, a Lua se vai, ferida, pedir ajuda ao Vento. E a batalha continua.

Na noite seguinte, a Noite é quem planeja. Desta vez, Deus consente, mas desacredita. É sábio, já se vê que será luta infinita a que se segue.

Ainda não veio o dia, a Noite o segura de todas as formas possíveis, até que já não pode mais, a luz lhe queima os olhos, e a Terra os cega com a poeira. A Noite, como o vampiro ou como o morcego, não pode com o dia.



A batalha se espalha. Agora, também na cidade, Sol e Terra se confrontam. O calor no asfalto queima o pé de uma criança, que chora. Uma mãe se desespera: seu filho desmaia. Dentro de um carro, a visão do desânimo: uma jovem olha para rua através do vidro como se visse sua mãe no leito de morte. As roupas grudam na pele, a pele gruda na pele.

O calor é quase insuportável para quem está à sombra, descansando. Para quem se move, não há calor, há sofrimento, há desânimo. Tudo porque há guerra. Entre o Sol e a Terra, há guerra entre eles.
“Mas um dia, isso tem de acabar”, diz Deus.



Do mar, se aproxima o juiz, resolver a peleja. Junto dele, duas nuvens, enviadas pelo vento. Já está a par de tudo, e se aproxima, poderoso, talvez até para acabar com aquela disputa.
Enquanto isso, Terra e Sol lutam. Não por muito mais tempo.

Uma rajada de vento varre a Terra. Outra, o Sol. Ambos têm um mau pressentimento, é vento de chuva.
Logo, o Céu permite as nuvens, uma, duas, três, dez, inicialmente. Pequenas, brancas e fracas, algumas são logo derrotadas pela batalha que se segue. Mas o Céu sabe o que acontecerá, jamais desistirá.

Agora vêm as nuvens negras. Lentas, mas fortes. Grandes e sábias. Várias, ocupam todo o espaço dado pelo céu. Terra e Sol já esboçam sinais de preocupação, sabem que as nuvens negras oferecem perigo, mas continuam a brigar.

Rapidamente, todo o Céu está negro, esbravejando grandes clarões, raios e trovões, que caem na Terra, que racha e grita. O Sol ri. Uma rajada de vento lhe sopra as ventas, com poder suficiente para apagar a maior das fogueiras. O Sol se arrepia de frio, e agora a Terra caçoa. Mal sabem eles o perigo que os espera.

Finalmente, chega o juiz. Alfinetadas frias são sentidas pela Terra e pelo Sol, é o aviso de que a Chuva está chegando. E, mesmo assim, nada acontece, nenhuma guerra acaba.

Grita a chuva! Foi um grande raio, que cala todas as bocas.

- O que acontece aqui? Pergunta a chuva

A Terra logo responde:

- É o Sol. Este miserável quer ver-me cheia de rachaduras e de erosões, de poeira e de restos de plantas queimadas. Mal sabe ele que já resisti a tudo, e não será ele quem vai me destruir!

- Calúnia, sua desgraçada! Você é quem quer ver-me desmoralizado. Faz-se de teimosa, nunca deixou-me conhecer o Horizonte, simplesmente por não me achar suficientemente nobre para tal. Ora!, quem é você para me negar tal desejo. Chuva, se há quem deva sofrer, esta deve ser a Terra!

Seus olhos e suas ventas brilham. Furiosa, já não se agüenta mais de ódio e ira, a Chuva. E sentencia com voz de trovão:

- Terra! Sol! Irão ambos sofrer da minha ira, ambos estão errados, são dois teimosos! Não percebem que sua luta boba e sem sentido faz todos sofrerem? Milhares de inocentes, as crianças choram, os animais sofrem de fome e sede, os velhos se desesperam por não ter o que dar de comer às crianças! Se é assim que querem, se querem a guerra, lhes darei uma guerra para lutar, uma guerra contra suas vidas.

Então, cai o céu. A Chuva, impiedosa, junto do vento, arrasta tudo o que pode, alaga tudo o que encontra, machuca o chão com suas gotas pesadas e frias, a enxurrada leva tudo o que pode. A Terra, que antes sentia-se indestrutível e inatingível, agora tem medo, percebeu que não tem chances de vencer. O Sol sofre tanto quanto a Terra, o frio e a água quase o apagam. Ouvem-se os gritos do fogo ao ser molhado, como uma grande fogueira que recebe água, e logo depois geme. Não há mais esperança para ambos, mas mesmo assim, a Chuva, impiedosa, ainda cai forte.

Vem a noite, e mesmo assim, a Chuva não cessa. Pior, ainda está bravia. O solo, todo encharcado, entretanto feliz, por finalmente tomar seu banho tão merecido. As plantas afogando-se, entretanto felizes, por poderem tomar água depois de tanta sede. Apenas os animais se assustam, simplesmente por causa dos raios que sempre caem, mas afora isso estão contentes. Agora, haverá pasto, os tempos difíceis devem acabar.

A noite passa, e a chuva finalmente começa a rarear. O Sol está escondido sob um árvore, dormindo, para não se molhar mais, tremendo-se todo. A Terra também está dormindo, dentro de uma caverna. Ambos não estão vendo a trégua que começa, mas a Chuva sabe que eles logo entenderão porque foi necessária tanta violência.

Cedo, o Sol se levanta, iluminado com seus raios ainda fracos toda a Terra, que acabava de sair de seu abrigo. A luz faz com que as gotas d’água nas plantas transformem-se em pequenas lentes, que cobrem toda a vastidão. Esta, por sua vez, espreguiça-se à luz, sabendo que, agora, tendo sua sede terminada, poderá dar de comer e beber para todos aqueles que dela dependem.

Ainda faz frio, a Terra tem os olhos encobertos pela água, mas já percebe que algo está diferente. Alguns pássaros ousam voar com o intuito de caçar, alguns animais ousam sair para dar os primeiros passos de um novo dia. As minhocas, há muito desaparecidas, sobem à superfície e vêem algo que lhes é muito interessante: o Sol. Antes, uma ameaça à vida, agora apenas um disco iluminado que lhes aquece agradavelmente o corpo.

A Terra, antes maltratada e rachada, agora sente novamente a vitalidade. Sente as raízes das plantas crescendo, sente os animais se movendo sob e sobre si, sente o rio que passa por debaixo de si, sente... o calor do Sol, lhe aquecendo mansamente. E, ao imaginar que este foi derrotado, percebe que também está frágil. Sua constituição foi profundamente atingida, qualquer movimento e ela pode se desmoronar.




Do céu, novamente vem a Chuva.

- Ainda brigam depois de tudo isso? Ainda posso
chover mais!

- Não! Não, não brigamos mais! Aprendemos o que tínhamos de aprender! disseram Sol e Terra em uníssono.

- Eu, o Sol, ilumino a Terra que, se devidamente regada, faz crescer o verde e as flores, que enchem a vista. Sem a Terra, sou triste.

- Eu, a Terra, recebo muito agradecida a luz do Sol, e dou abrigo e alimento às plantas. Sem o Sol, nada cresce em mim; sou triste.

- Então, diz a Chuva contente, vou-me embora e não quero saber mais de brigas entre vocês. Espero que tenham aprendido, mesmo que da pior forma possível.

A Chuva se vai e, lentamente, o Sol se aquece mais e mais, a Terra seca-se mais e mais, e ao meio-dia ambas estão tão vivas e felizes que nem se lembram mais de que no outro dia estavam brigando. Um sorri para o outro, a vida volta à terra, tudo está radiante.

- Chama-se isso de Primavera, Sol e Terra – diz baixinho a Chuva.

D.I.D.S. – 07/09/2000
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