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Cordel-->CINE POPULAR PAU-DE-ARARA -- 17/04/2009 - 18:53 (pedro marcilio da silva leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CINE POPULAR PAU-DE-ARARA



Esse cordel é por conta da oportunidade
que nos ofereceu o shopping inaugurado
às margens de uma rodovia na cidade,
num de seus acessos mais movimentados.
O luxuoso Shopping Caxias em questão.
É, nesses tempos modernos, a grande sensação
como coçador de mãos e bolsos assanhados.

Templo maior dos consumidores mais febris
com centenas de lojas, milhares de luzes e cores,
ímã que atrai espertos e incautos desses brasis
e as almas mais cândidas, de muito sabores.
É assim o espaço facetado das tentações
na aquisição pelas possibilidades e obrigações,
na compra pela carência e motivos tentadores.

Não só da infinidade de produtos e compradores
vive esse nicho moderno da grande feira feudal,
mas da ambiciosa sensação dos consumidores
pelo impulso de mãos em colorida gôndola fetal.
Múltiplas escolhas na mais tranquila segurança
como no ventre da grande mãe dessa criança
convicta como se todos os dias fossem dia de natal.

Há de tudo, muito ou pouco, mas sempre há
o que lhe interessa ou mesmo o que já interessou,
mas com certeza um belo dia vai interessar
pois a publicidade profissional nunca falhou.
Não tem nada nem ninguém para você vender
só comprar, pois comprar é a forma de ser
pois aqui você é especial: um grande consumidor.

No entretenimento o prato é bastante cheio
com salas cinematográficas de última geração
utilizando da mais alta tecnologia em seu meio
para lhes proporcionar alegria e satisfação.
O som é claro, forte, harmônico, equalizado,
e as poltronas que o deixam bem confortado
combinam bem com o tecnicolor da projeção.

As lembranças certamente virão com saudades
no tempo futuro das coisas que irão acontecer;
na praça de alimentação, corredores e andares,
como no auge das emoções que irão se suceder.
No mocinho salvando a mocinha de computador
ou o chip atômico nas mãos do eterno malfeitor,
no mesmo antigo enredo e no seu sempre proceder.

São os tempos moderníssimos chegando à cidade
trazendo nas veias de seus asfaltos enegrecidos
um penduricalho de consumo de sua modernidade,
um afeto num povo ávido e menos empobrecido.
Mas, agora, lembro de um tempo que a diversão
só era possível com muito desejo e determinação
como agora já que o conforto me é oferecido.

Na cidade de Duque de Caxias um fato espetacular
entrou para a história desse mundão universal
na imagem singular e fabulosa de um cinema popular,
sem notícia jamais dada de outro haver como tal.
“Sui generis” é palavra acanhada para descrevê-lo
e por outra culta ou castiça poderá até surpreendê-lo,
vou expor aqui esse genuíno entretenimento cultural.

Na Nilo Peçanha, bem no centro desta cidade,
defronte ao que já foi um dia a Câmara Municipal
havia uma construção em madeira de boa qualidade
que neste País não havia similar, genérico ou igual:
o admiravelmente fabuloso... Cinema Popular.
Onde a Sétima Arte melhor pode se acomodar
no coração e na mente de um povo magistral.

Por não haver teto, eram ao ar livre as sessões,
mesmo nas noites de chuvas ou nas enluaradas.
Havia marquises laterais de telhas e moirões,
onde se assistia de pé a todas as fitas passadas.
Todo de tábuas, a parte da frente dava vista
num azul claro, onde corriam avermelhadas ripas
e tinham os cartazes em vitrines gradeadas.

No salão desse grandioso cinema popular
o piso era o próprio chão, de pó de pedra coberto
e que lhe dava uma rusticidade tão singular
que sentimentos rudes ficavam a descobertos.
Não havia poltronas, mas bancos de madeiras
sem encostos que a vontade era verdadeira
ao um bom filme com o coração aberto.

Quando era chuva miúda que muito não molhava,
e a sessão era de filme já há tempos anunciado,
só as capas e os guarda-chuvas eram o que abrigava
a plateia que olhava a tela com olhar concentrado
no “mocinho”, em sua espetacular cavalgada
ou na “mocinha” com a boca de beijos molhada
jurando fidelidade eterna ao amor consagrado.

A plateia masculina era a que mais predominava,
talvez pela geografia um pouco desconfortável
que a uma menina, moça ou senhora incomodava.
Certas brincadeiras que beirando o abominável
alguns rapazes enchiam sacos de pipocas, de areia
e jogavam em quem os olhava bem de cara feia,
ou mesmo que só lhe fossem muito desagradável.

Muitos iam ao cinema com alma de gaiato,
que por qualquer motivo sem razão aparente
assobiavam, latiam ou até imitavam gatos
como se dançassem em teto de zinco quente.
Outro,s vez por outra, faziam da cena piada
mesmo que de engraçada não tinha nada
era tão somente uma bobeira aparente.

Se as brincadeiras começassem a incomodar
sempre chegava o segurança de plantão
na figura de um ferrabrás bem singular
vindo das Alagoas e primo do Canção.
Este era conhecido como Pisa-na-Fulô
e guarda municipal que não sentia dor
deixando para os outros essa emoção.

Quando não identificava o autor da graça
botava uma fileira da platéia pra fora
dizendo não fazer apenas por pirraça,
mas tinha que manter a ordem na hora
depois poderia haver minuciosa investigação
e descoberto,o gaiato sofreria severa punição
que cinema sério não é lugar de pororoca.

Uma certa ocasião, pelo imenso sucesso
que pelo mundo fazia, uma atriz francesa
enchendo os cinemas de gente e lucro certo
com sua deslumbrante e invulgar beleza
causando muito tumulto ao velho guarda Fulô
a forma escultural do corpo de Brigitte Bardot
provocando na plateia “frisson” e torpeza.

Era o lançamento de “E Deus criou a mulher”,
com a doce diva evoluindo sensual na tela
anunciando na velha baixada uma nova era,
uma shakesperiano de se ser o que se é
sem preconceitos, radicalismo ou querelas.
o jeito bem moderno Bardot de ser bela
despudoradamente desinibido de ser mulher.

Também reinavam em sua sessões os mocinhos
dos faroestes clássicos do cinema americano
como Audie Murphy e outros heróis baixinhos
aos gigantes gringos: irlandeses e anglicanos.
Era o Cinema Popular uma grande novidade
integrando em sua arquitetura às raízes da cidade
a essência da ilusão, não causava desenganos.

Nas janelas das construções próximas e altas
a gente assistia razoavelmente suas projeções,
notadamente quando o som não fazia falta
pois para ouvir à distância, só eco de trovões.
Bem que o talento de quase todos os atores
com gestos teatrais, caras, bocas e tremores
deixavam emocionados pungentes corações.

Nos anos 70 fecharam o cine para um mercado
muito conhecido na época como “Casas da Banha”
deixando de vender ilusões por secos e molhados
bebidas, bacalhaus, sabão e coisas estranhas.
Depois de deixar a coca no lugar do caldo-de-cana,
trocaram a “da Banha” pelas Lojas Americanas
ficando sem cine, nem eira, nem beira, nem manha.

Parece até ciclos históricos duvidosos e farsantes,
trocando alhos por bugalhos como mercadores
ludibriando sentidos e consciências brilhantes
falseando puras verdades para historiadores.
Que seja na troca da meia dúzia por seis,
que antigos sonhos e eternas ilusões tenham vez
e os tempos modernos sejam compensadores.

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