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Cronicas-->À noite todos os gatos são pardos -- 10/10/2003 - 18:25 (Christina Cabral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Às noites os gatos são pardos

Os hotéis de Paris estavam lotados. Conseguimos um apartamento minúsculo, no último andar do Opera Chic.

Quarto pequeno, mas confortável, pareceu-me um "boudoir", com sua cama de dossel de seda e rendas cor de rosa (contrastando com os bigodões do meu distinto), seus dois fofíssimos colchões, desses que obrigam, pela lei da gravidade, que o par se transforme, queira ou não queira, num só corpo, afundado num vale entre montanhas, Queira-se ou não, "acolhera-se" e funga-se a nuca do companheiro. Até que a experiência foi boa; valeu-me uma garrafa de champanhe "brut" e rosas vermelhas. "Tão bão"!

Antes de sair do quarto, à noite, enquanto o marido fazia a barba, dei uma olhada pela janela e entreguei-me ao sonho: do prédio visinho avistei o sótão. Através da cortina de voal transparente, pude divisar o forro inclinado e alguns moveis escuros de um diminuto quarto. A luz fraca de um abajour escoava pela janela e trazia-me contornos e sombras fantasmagóricas.

Vi-me dentro de uma cena misteriosa e de suspense de Ágata Christie. Imaginei o drama: a prostituta sendo assassinada, a facadas, pelo seu amante e gigoló, Seu corpo escultural, de uma brancura de marfim, caia sobre a cama - idêntica à minha, com dossel e tudo - e sua mão pendia para o chão, trazendo entre os dedos delgados, de unhas cintilantes e rubras, um botão de rosa vermelha.

Não, ela não estava nua! Vestia um finíssimo espartilho, acentuando-lhe as formas arredondadas dos quadris e do busto, que emergia, voluptuoso, por entre crespos babados.

Tanta beleza e sensualidade, morta? Friamente morta? Que desperdício!

O vilão, envolto em negra capa de veludo, deixaria sua faca assassina enterrada na garganta de sua traidora amante e, como um pássaro da morte, desceria pela escada de incêndio, ali, diante dos meus olhos amedrontados.

Presenciei a agressão, ouvi as súplicas, o arrastar dos corpos numa dança de apache. Depois, a mão que se erguia, o frio aço que penetrava na carne jovem e translúcida.

- Estou pronto, querida. Vamos?

Abandonei a cena do crime e voltei à realidade:

- Vamos, estou faminta!

Ah! Paris magnífica, misteriosa, surpreendente! Ah! Noite de sonhos, de vinhos e queijos! Ah! Boulevard do Champs Elisées, Café de la Paix, Moulin Rouge, Place Pigale...

Entre edredons de penas de gansos afundei meus sonhos.

O sol, atrevido e fuxiqueiro dançou sobre meus olhos.

Acordar em Paris! Lembrei-me do quartinho do sótão do prédio visinho e, de imediato, pulei da cama e abri a janela. Ansiava por olhar, uma vez mais, o quarto soturno que tão má impressão me causara. Mas, à luz do dia os gatos deixam de ser pardos. Lá estava o telhado inclinado cobrindo o diminuto quarto que, dentro da sua singeleza, era airoso e na sua janela, abrigada por um lindo xale de lã azul, uma velhinha regava os seus gerànios na pequena jardineira. Levantou seus olhos e disse-me, sorrindo:

- Bonjour, madame!
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