Projeto “Para esquecer a notícia” – acervo encantado do século XX, versão remix
O carnaval de 1917 : dez dias que abalaram o mundo!
Mesmo o folião mais exigente não deixou de surpreender-se com a atuação arrebatadora, com a ginga e aquele molejo eslavo todo especial da URSS – União das Repúblicas Socialistas do Samba - durante a passeata-show na Marquês de Sapucaiovski: uma explosão de alegria, canhões e cores demolindo a velha Moscou, abalando de vez a base (e a superestrutura) da triste e decadente ordem moral aristocrático-burguesa.
Ao som da vitoriosa marchinha militar de carnaval “Uma barricada só não faz revolução”, composta pelo poeta e puxador de samba Joãozinho Maiakovski, a galera bolchevista, sarada e revolucionária, saudava a pomba-gira vermelha da paz de Brest-Litovsky. Capital e Trabalho, juntos, cantavam numa só voz: “Mamãe eu quero / mamãe eu quero estatizar...”
Nos camarotes, a participação dos seletos convivas do mais alto escalão do socialismo socialite não foi menos contagiante. A companheira Marta Suplicovsky, prefeita de S. Paulingrado, trocava figurinhas com os camaradas Lenine e Zeca Baleiro. Ao lado, disfarçando uma dor-de-cabeça de rachar - dizem, provocada pelo som do estouro das bombinhas Stálin -, o camarada Trostky saracoteava ao som de “O Menchevique Apaixonado e a Proletária Rasputinha”.
Na avenida, tudo era sonho, materialismo e dialética. O cineasta, roqueiro e carnavalesco Serounãosergay Eisenstein fez questão acompanhar de perto todo o desfile, sobretudo durante a passagem do carro abre-alas “Empetecado Potemkin”, cuja trupe de marinheiros amotinados fez ruborizar as já tão vermelhas bonecas da revolução. Um verdadeiro frisson!
E finalmente, garantindo o Momento Kodak da festa, a companheira Rosa da Fonseca Luxemburgo, madrinha da bateria sinfônica, foi flagrada em atitude abertamentamente revolucionária: trajava(?) modelito mini-sovietcong vermelho, exibindo, toda prosa, a questão fundiária aos olhares famintos do campesinato, cuja intenção – via-se claramente – era de invadir o latifúndio da moça.
por John Red, correspondente do informativo “Folião de S. Paulingrado”
[notícia publicada por Fernando Morais]
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