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Poesias-->RIO DE JANEIRO MADRUGADA 1957 -- 13/11/2005 - 17:08 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
RIO DE JANEIRO MADRUGADA 1957



Poema de ANTONIO MIRANDA





que importa já passou nada restou

daquelas noites mornas e sem normas

pelas ruelas sujas paredes descascadas

da Lapa detrás dos Arcos prostitutas



mendigos tabuleiros angu com torresmo

travestis drogados acuados grasnando

de saltos altos seios postiços línguas

masturbando clientes colados aos postes



garotos de programa na Galeria Alasca

mostrando pênis rijos como mercadorias

vendedores de amendoim torradinho

lá vem o camburão arrasando quarteirão



sexo ali na praia ali mesmo luzes

refletidas corpos nus fricção orgasmo

curra sofreguidão susto prostração

que a noite é longa e os sonhos aguçados



um intelectual na porta do boteco cisma

um resto de samba-canção desnaturado

o bonde trepida os marinheiros urinam

e as igrejas dormem e os ratos assustados



os jornais da madrugada pesam nas calçadas

os bêbedos os malandros os vendedores de rua

os casais que saem dos cabarés suados

e o velho que dorme no banco de praça



e as luzes da avenida reverberando

e as colunas mortas e as portas fechadas

os anúncios luminosos as hospedarias

e os sobrados envergonhados sonolentos



não há lua sob um céu de chumbo

o bolso vazio o coração esfacelado

um desempregado com fome na parada

esperando o ônibus para o subúrbio



fantasias notívagas os preconceitos suspensos

desejos absconsos e sua cumplicidade

classes sociais aproximando-se promíscuas

antes que o dia enquadre as criaturas





Chácara Irecê, 28/5/205, 12/11/2005,





Comentários (prescindíveis...)



Tem um indivíduo que de vez em quando me envia e-mails dizendo não ser poesia o que escrevo por faltar métrica, e rima certa... É isso mesmo: tem muito de anti-poesia... Ele está certo. Eu também.



Reclama de meu descuido com a gramática, com a sintaxe, falta de pontuação... Eu reajo e tiro todas as vírgulas...



Tem um outro que é mais exigente e não aceita que eu despoetise o mundo referindo-me a coisas desagradáveis, usando palavras grosseiras, temas cruéis.



Os dois vão ficar chocados com este poema. Vão me deletar. A Internet é fantástica porque é invasiva, interativa, quase instantânea nas relações virtuais. Às vezes recebo comentários minutos depois de distribuir os meus textos. A tempo de reagir e de rever os meus escritos, corrigindo falhas, acrescentando, cortando, seguindo as reações dos interlocutores quando considero oportunas.



O que eu mais adoro no sítio www.usinadeletras.com.br (onde eu primeiro publico meus textos) é que a edição é instantânea. Não há censura, revisão, seleção. Lê quem quer, apaga quem não gosta. O lixo e o luxo, tudo junto, numa usina, na moagem... Você é um entre milhares... A quantidade pode levar à quantidade, ainda que residualmente. Às vezes, minutos depois de publicar um poema, ele é visitado, lido. E, não raro, eu reedito, conserto, acrescento, apago versos... É tudo tão provisório na onipresença da web... É isso mesmo.



Você acerta, você apaga, joga para o espaço. Vai criando e desfazendo relações. No relativo anonimato, as pessoas são menos formais, mais autênticas: xingam, expressam admiração, apropriam-se de, desfazem-se sem maiores constrangimentos.



André Lemos, referindo-se à cibercultura, hasteia-se no coreano Nom June Park, e afirma que “não existe verdade, pois não existe aquilo que podemos afirmar ser o real. Tudo não passa de pura invenção e rearranjos sucessivos.”

Lemos refere-se à vídeo-arte mas poderia também referir-se à palavra, ao texto, cada vez menos referentes ao “fundamento figurativo, naturalista, representativo”. Cada vez somos mais alegóricos.



O poema acima parece figurativo, descritivo... mas não existe o original, não se refere a lugar algum, a nenhum momento específico. 1957, Rio de Janeiro e os Arcos da Lapa são referências concretas... o resto é simulação, no lugar do real. Por isso é que é real, só que em outra dimensão – na quarta dimensão em que vive o artista e seu público!



“O mundo ao qual esse “ciber-artista” se refere não é mais o mundo real dos fenômenos, mas o mundo virtual dos simulacros”. Conclui André Lemos. Assino em baixo.

Antonio Miranda



Em tempo:



Ao prefaciar o livro coletivo de poesia escrito por três alunos meus, recortei trechos de cada um deles e “formei” um poema “coletivo”. Ficaram perplexos... Havia inter-relação e sentido entre os versos e compunham um poema...



Fiz o mesmo no prefácio do livro Alucinaciones, do poeta Francisco Alarcón, que acaba de ser publicado na Venezuela. Recortei com uma tesoura virtual (control C + control V) versos de vários poemas e montei um poema-mosaico. Pensei que ele ia rejeitar o prefácio. Ele gostou e publicou e assumiu o poema... É assim mesmo que a gente produz os próprios textos, fazendo montagens, colagens, justaposições, confrontos, contradições... A ordem dos fatores altera o produto.





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