Domingo-pé-de-cachimbo -
Acordei sentindo um vazio interior. Fiquei na cama matutando sobre as possíveis razões. Prezo-me em ser pessoa otimista e pronta pra luta, mesmo em situações as mais difíceis. Perdi e ganhei - não sei o real valor das derrotas nem das vitórias. Acho que só a eternidade vai poder valorizar.
Mas não é sobre isto que quero conversar, embora os domingos de manhã, em outrora tempos, em companhia então presente, quase sempre foram dedicados a conversas com certa profundidade.
Mas estive matutando... o vazio que me penetrou ao acordar. Uma sensação de inutilidade. Um tempo enorme só para mim, como vou usá-lo? (Além de ir recolher uma amiga que está chegando pra passar dois ou três dias em casa.) - E, de repente, percebi - o meu vazio interior é um sinal, um sinalzinho que seja, de uma dependência que não percebi avultar-se na minha vida.
Em suma, fiquei dependente da Internet. Virou o meu vício número um. (Os demais são tão inocentes... suco de uva e chocolate, em horas separadas, mas ambos estes vícios são também dependências.)
Para meu desgosto pessoal, percebo que fiquei dependente da Internet. Das notícias, dos cronistas, de alguns chats e, até, com algumas reservas, dos horóscopos - tão ridículos que vou a eles para me divertir, como vou à s piadas.
A Usina - me perdoem os compadres, tão habilidosos, a maior parte, em escrever, o que me traz um prazer mental elevado - a Usina, dizia, faz parte da minha dependência. Não que escreva tanto (minha profissão é escrever, chego à Usina mais para descansar do que faço por dever - e, também, prazer), mas vou à Usina para ler. Aqui fiz tantas amizades, já disse no meu Currículo, algumas duradouras, outras passageiras, outras apenas um aceno amigo. Mas aqui criei raízes. E sempre volto (mesmo quando terminar minha assinatura). O problema não é a Usina. Meu problema é o vício com a Internet.
Ontem me atrasei a um compromisso .... porque fiquei na Internet. Durante a semana, saí de casa sem um endereço, porque me distraí com a Internet... Voltei pra pegá-lo, o tinha deixado... onde? Ao lado do computador, claro!
Há alguns anos, quando a Internet não era mais do que uma coisa difícil para ser acessada e, mesmo assim, ali também eu ficava, aparecia de vez em quando, um cartaz - como estes pop-ups de hoje - onde se lia: "Stop. Go back to work." -- Quem será que teria colocado aquilo alí? Mas funcionava. (Sou muito obediente...) - Eu conseguia me lembrar de que tinha trabalho para finalizar (ou até para começar) e saía, cabisbaixa e infeliz, mas saía da Internet e voltava aos meus deveres.
Hoje, se um pop-up desses pipocasse por aqui, será que eu obedeceria? --- Mas, pensando bem,
o que foi essa sessão de autoflagelo, ainda na cama, no alvorecer do domingo (eram as oito da manhã)se não um pop-up mental, que eu mesma, do fundo da minha consciência, levantei para me alertar? -
Existem centros de reabilitação para uma porção de vícios... entre os mais comuns, a bebida, a comedeira (de alimentos) e de desvios sexuais (como a pedofilia). Alguém poderia inventar um centro de reabilitação para viciados em Internet.
Serei a primeira a me enlistar.
Mas, primeiro, tenho de aprender a este computador desligar.
Tenham vocês um bom domingo. E obrigada por me escutar.
----- Nereida |
