"Quando o discípulo está pronto o mestre aparece", provérbio indiano que tenho ouvido muito nos últimos tempos e que está calando fundo na alma nessa deliciosa sexta-feira de primavera, com um céu tão azul e um clima tão gostoso no ar que dá vontade de sair por aí cantando e dançando, uma leveza que torna qualquer ação, por mais simples que possa parecer, profundamente gratificante.
Longe de querer fazer qualquer análise dessas palavras, mas com uma vontade enorme de compartilhar a interpretação que vai no coração, penso que o mestre pode estar mais próximo do que se imagina, Ã espreita, esperando o momento certo, a hora exata de aparecer. Esse encontro entre o discípulo e seu mestre pode estar em tantas coisas, em tantas situações do dia-a-dia, como por exemplo, um pedido feito com tanta devoção que por fim é atendido; um trabalho que há tanto tempo é idealizado e finalmente começa a se configurar; uma parceria que há tempos se deseja e que se mostra mais definida, mais segura; nas portas que finalmente começam a se abrir; no fluxo livre e leve dos acontecimentos e situações, como por exemplo, uma resposta que vem assim que a pergunta é feita ou refeita; um encontro onde tudo corre muito bem e lhe sinaliza um futuro promissor, etc.
Não há mal algum em procurar o mestre personificado em carne e osso, alguém muito sábio, um orientador, mas utilizando uma visão como, por exemplo, a da filosofia tàntrica, que diz que o guru não é o corpo físico, mas aquele em cuja presença sente-se constantemente a energia da bem-aventurança, ou seja, a presença dos sentimentos mais elevados de contato com o divino, lembrando-lhe da divindade que reside em si mesmo, e não como algo que esteja longe ou que seja visto como privilégio de poucos; alguém que faça você lembrar-se o tempo todo da sua meta de constante busca por iluminação interior, alguém que faça você sentir nitidamente a presença de Deus dentro, fora e em toda a parte.
Mas para isso você precisa confiar e soltar o controle de uma porção de coisas que não servem para absolutamente nada nessa vida, jogar fora coisas velhas, antigas, soltar-se dos grilhões que arrasta há anos, se bobear há séculos, e que só servem mesmo é para fazer peso e atrapalhar sua caminhada.
Porém, não espere que todos se soltem de uma vez, não espere estar totalmente pronto para só nesse momento começar a buscar e a trilhar seus planos de vida, para começar o que sente no fundo da sua alma que precisa fazer; não espere que o ambiente esteja totalmente limpo, equilibrado, harmónico, porque a realização se constrói num esforço contínuo de desapego. Há etapas a cumprir, e sim, você pode dar saltos, mas desde que esteja atento para perceber que a iluminação não está no fim, ela está no caminho, para quem quiser e estiver realmente disposto a ver, ou melhor, para quem estiver realmente aberto para o "conhece-te a ti mesmo", que como diz Krishnamurti "requer observação constante e vigilància meditativa".
E é assim, sentindo o fluxo natural do rio da vida dentro de si mesmo que o seu guru, o seu mestre interior pode aparecer.
