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Contos-->O PICAÇO -- 10/12/2004 - 00:25 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O PICAÇO

Fernando Zocca

Van Grogue, sentado ali naquele banco, clamava ao vento pedindo-lhe que sua enxaqueca arrefecesse e que sua vista voltasse ao normal. A manhã estava fria; apesar do calendário indicar o fim da primavera e o começo do verão, as pessoas caminhantes usavam casacos leves. Seu mau humor ele atribuía à irmã, que lhe cobrava diariamente atitudes de homem, cabra macho responsável, sóbrio que sustentasse a casa.
Grogue sentiu o peso no estômago. Talvez fosse aquele pãozinho deglutido com pressa, acompanhado pelo café ralo, o causador do embaraço. Ele pensou: "Será que a padaria estaria colocando, com exagero, o bromato de potássio no pão?"
Van não se conformava com tanta implicância contra suas pingas. Caminhou um pouco ainda tonto, e notou um ponto escuro que subia pela perna da calça.
- Pô, mais essa ainda? Um picaço; deve ser estrela, daqueles que causam a maculosa. Tô ferrado! Capturou o inseto; colocou-o na unha do polegar esquerdo e com a do direito esmagou o acarino.
A irritabilidade que sentia manifestava-se nos gestos e expressões fisionômicas, provocadas pelo movimento dos carros e pessoas na rua. Ele falava sozinho, murmurando palavras e frases, expelidas em resposta a supostas questões.
Suas dores tornavam-se mais prementes àquela hora do dia. O calcanhar, braços e antebraços estavam de um jeito que não se podia tocar, nem de leve.
- Essa negadinha só vê e reclama das pingas que eu bebo. Mas dos tombos que eu levo ninguém fala nada! E pra piorar elegeram esse tal de Jarbas. Estou sabendo que ele quer fechar todos os bares da cidade. O cara é ruim mesmo! Dizem que ele compra todo mundo. Ele é tão chato, mas tão chato que só contrata pessoas aposentadas. Ele põe gente que já trabalhou, que recebe agora sem fazer nada, lá na prefeitura,. Ocupa espaços com quem não precisa de trabalho; pretere quem necessita de trampo. Eu sou bêbado, mas não burro!
Grogue sentiu o tremor das mãos. A sede implacável conduziu-o a um boteco aberto já àquela hora da manhã.
- Bota uma piribita borbulhante ai, meu irmão!
Depois de ingerir a "homeopatia", pagou a conta e saiu resmungando pela rua.
- Nossa! Eu preciso arranjar uma namorada; urgente! Tem de possuir longos cabelos, castanhos lisos, nariz afilado, lábios finos, tez alva, voz legal e que... sendo inteligente, tenha um trampo jóia. Ela necessariamente deverá gostar de pizzas e macarronadas.
Um Santana velho, cor indefinida, todo esculhambado pela ferrugem, dirigido por um sujeito encarquilhado passou perto do Van. Se o pelintra não se esquiva, minha amiga, o embate seria feio. Grogue esgoelou:
- Asino! Burro dos infernos!
Recuperado do susto o pobre Grogue limpava, com tapas leves, a calça empoeirada. Resmungão ele proferia:
- Não sei porque existe tanta diferença entre as pessoas. Por quê alguns privilegiados se aposentam com milhares de reais mensais e outros, considerados os lixos do planeta, quase não vêem a cor do dinheiro? Será que existem pessoas interessadas em manter a maioria da população limitada pela escassez dos bens produzidos pela sociedade? Na verdade eu acho que essa política de desenvolvimento industrial está destruindo o planeta. Nós seres humanos, iguais aos cupins na mesa nova, corroem os trechos transformando tudo em titica.
Grogue continuava:
- Tem muita lei injusta! Onde já se viu (em que país), filhas ociosas de funcionários públicos falecidos, sustentadas pelo estado, até o fim das suas vidas, com pensões obesas, debilitantes das contas previdenciárias? E na outra ponta (veja o desequilíbrio), a maioria da população necessitada, passando um perereco infernal, pra comer um pãozinho de bromato diário! Será que não podiam melhorar, pelo menos, o salário mínimo? Eu acho que a previdência deveria ser única, universal e satisfatória para todos.
Um cachorro vira-latas preto, rabudo e ofegante, (tinha um palmo de língua pra fora), aproximou-se do Grogue, levantou a perna traseira direita, e esguichou sua urina no pé do desatento. O atingido não teve forças nem pra chutar a bunda do abusado.



Fernando Zocca é escritor, advogado e jornalista.
Leia também da série Finalmente Tupinambica das Linhas se Ferrou: TARJAS FÚNEBRES, TARJAS FÚNEBRES II, A PACHEQUICE, ABRE TEUS OLHOS, O COLARINHO BRANCO DO JARBAS, ZÉ TAPINHA, JARBAS, O NÓ CEGO, e A LOUCURA COLETIVA.
Breve: O CHUVEIRINHO.




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