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Contos-->A MULHER DOS HOMENS SEM ROSTO -- 07/12/2004 - 18:41 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A MULHER DOS HOMENS SEM ROSTO

Ao meu lado, esse corpo a ser tocado na mais completa escuridão...

Não é bem que os meus homens não tenham rostos... mas jamais me lembrarei deles. Jamais encarei um cliente olhando olho no olho. Não fixo o rosto de quem me aborda na rua. Esse é um segredo meu... E depois, quando é a segunda vez, ou quando o contato é feito por telefone, uma bruma em meu pensamento impede (talvez porque eu não queira), de imaginar o seu rosto. É por isso que digo de mim, e para mim mesma, que sou a mulher dos homens sem rosto:
“Vai, Mulher dos Homens Sem Rosto”, eu digo.

Ao meu lado, esse homem no escuro...
É o meu drama... Tocar ou não tocar, é o sacrifício de quem precisa beber um remédio amargo... Num esforço acabo estendendo a mão, e toco. É melhor que eu o faça antes que ele me toque. Seria bom se pudéssemos fazer o que viemos fazer, sem que ele me tocasse. Mas essa é a outra dose do remédio amargo que eu tenho que tomar...

Ao meu ouvido essa voz desse homem no escuro...
Minto meu nome mais uma vez. Já aprendi o nome repetido no anúncio. Sou Madalena. Isso, Madalena. Que me apedrejem, mas sou uma madalena. Há de vir um homem um dia, que não queira fazer sexo comigo, e que me ame não pelo meu corpo, mas que ame quem eu sou (e não o que pareço ser), e que mande que alguém que não tenha pecado me atire a primeira pedra...
Um dia, um desses homens (que aparecem no escuro), fez com que eu olhasse à força nos seus olhos... Ele tinha um livro na mão. Lembro-me que era um livro preto que deveria conter todos os pecados escritos, porque quando ele o abriu e me acusou, e me apedrejava mas dizendo que me amava, e queria me levar a um lugar, onde segundo ele seria a porta do paraíso... E tanto insistiu dizendo que me amava, que o segui, e depois tanto ele como os outros me jogavam pedras dizendo que eu era uma perdida, e que estaria no inferno em pouco tempo se não ouvisse os seus gritos... seus apelos... Fugi dos homens acusadores de livro preto nas mãos... E hoje, felizmente vejo aquele lugar como uma bruma que some da minha mente como os rostos de todos os homens...

Outro dia, quando eu andava no escuro das ruas dos meus dias encontrei um homem... Ele não tinha livros nas mãos... Como eu estava cansada de tocar homens no escuro, esperei que ele me tocasse como todos os outros homens que são imundos apesar dos banhos e dos perfumes... Mas aquele homem não me tocou... Esperei que perguntasse meu nome como todos os outros perguntam, mas não perguntou. Esperei que subisse em mim, e soprasse o seu mau hálito como tantos outros embriagados já o fizera, mas ele não o fez... E justamente desse homem, foi que senti medo por um pouco. Não era o medo que eu sentia por vezes dos outros homens. Era um medo mais parecido com o respeito que se tem por quem respeita você... E o medo que se tem de sair de perto de quem ao invés de querer usar teu corpo como os outros, fica do teu lado calado... Tantas vezes desejei isso de um homem, e agora sentia medo. Tantas vezes quis fazer sexo com quem não me forçasse a isso, e agora eu sentia medo justo quando poderia acontecer... Tantas vezes quis olhar nos olhos de um homem assim, mas esse ficava um pouco à minha frente, e eu não podia ver seus olhos...

Meu pensamento volta à realidade, porque há um homem do meu lado na escuridão... Tive a consciência que teria que tocá-lo. Esse é sempre o jeito de acabar logo com o sacrifício...
Então estendi a mão para tocar o homem que estava ao meu lado. Fui direto ao seu sexo para que não tivesse rodeios. Ele segurou a minha mão enquanto o tocava, e ternamente a afastou do seu sexo. Mas assim calado, continuou a segurar a minha mão. Surpresa olhei para o lado, dessa vez querendo ver o rosto do homem que estava no escuro, mas não pude ver. Seu rosto estava escondido por uma sombra bonita, e não pude divisar os seus traços. A sua mão era firme, e ainda segurava a minha. Sentia não o pulsar do seu sexo, mas o pulsar de uma vida nova ao meu lado. E pasmem... Dessa vez fui eu quem perguntou o seu nome. Mas ele não disse. E mesmo no escuro, percebi que sorria, e gostei do seu sorriso. E tentei vê-lo, mas percebi que ele é que não queria que eu visse o seu rosto, e uma névoa o encobria como se ela fosse também comandada por ele. Então fiz o que jamais fiz com qualquer outro homem: Coloquei a minha cabeça em seu peito, e adormeci... E sonhei com uma vida melhor do que a que eu tinha. E vi que havia um paraíso no meu sonho. E vi que a vida é muito mais que a vida de uma prostituta... e vi que eu não sou prostituta...


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Adelmario Sampaio
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